segunda-feira, agosto 02, 2010

Num segundo outro mundo

A lugar está lotado. Na boate, música e cerveja se completam; na pista, homens e mulheres se esbaldam de dançar, estão aptos a paquerar. Em alguns cantos do local, há casais se agarrando na volúpia dos seus vícios, no desejo intrínseco de uma noite de prazer. Em todo esse ambiente, propício a loucuras, ela se esbalda de dançar sem pensar em namoros ou casos. Suas amigas, que a acompanham, estão se preparando para botes certeiros nos “gatinhos” da noite. A cada batida daquela música forte e sexy, ela se esquece do mundo e só pensa em si mesma. Nada ali a importa mais; só a música e a dança.

Cada passo seu oscila entre rápido e lento com coordenação perfeita; o ritmo, o balanço dos braços e pernas e quadril se encontram firmes. Não há indivíduo que não olhe fascinado para aquele ser em movimentos graciosos e agressivos. A festa está chegando ao seu fim. Nos cantos lascivos, já não existe mais ninguém. A pista também ficou vazia. Só sobrou ela com seu copo de vinho, sentada em um mesa, rodeada por suas amigas contando os troféus de cada uma. Ela viaja em seus pensamentos, saindo daquele papo chato e sem graça. Ela bebe, ouve alguém falar “me pegou de jeito” e ri sem saber o que mais fazer. Foi quando, num golpe de mestre do destino, aparece alguém diferente e interessante que, para e a observa, sem se importar quem está ao redor dela. Num olhar, envolto em sentimentos incompreensíveis, eles se encontram. Cada um com um sorriso, um gesto, uma música diferente. A batida dos seus corpos os levam a lugares inimagináveis. “Vou ao banheiro”, diz ela saindo dali e de repente sente um braço puxá-la.

Na mesma hora, uma boca invade a sua e ela não se importa com isso. Num beijo, tão louco quanto toda a situação, eles sentem-se conhecidos de anos a fio. As mãos, que viajam por extremidades dos corpos agora conhecidos, se colidem com roupas que poderiam não estar ali, mas por alguma razão continuam no mesmo lugar. Ele a carrega, a coloca em cima da pia e eles se abraçam numa volúpia intensa. Ela o coloca em meio a suas pernas e o aperta. As mãos dele, passam e seguram seu rosto não só com lascívia, mas carinho. Ela contribui fazendo um cafuné em sua nuca. O beijo não para. Os olhos de ambos fecham e abrem, sem acreditar no que ocorre. Tudo acontece num mundo onde a rotina é esquecida com o toque de pele, um brilho no olhar. Aí está a beleza do momento. A cada movimento, uma visão diferente de como é a vida, de qual é o real valor do tesão.

Alguém chama-a. Ela se assusta e ri. Ele a olha, pede para esperar, mas ela não pode. Um beijo forte e ela sai se ajeitando, falando que estava passando mal, mas que está melhor. No canto da porta, ele a olha, com desejo e saudade. Ela o olha de volta e dá um sorriso alegre e infantil. Não trocaram telefones, nem e-mails. Eles sabiam que iam continuar o que ali começou. É só esperar o momento certo que eles irão fugir, mais uma vez, ao mundo onde a maior viagem é o prazer de estarem juntos.

Sanção Maia
02/08/10