sábado, agosto 09, 2008

O Efeito (1ª versão)

A rua estava deserta. Era noite, por volta das 23h30. As luzes dos postes mal iluminavam a rua. Lojas, casas, pequenos prédios e um grande armazém no fim da rua completavam o cenário mal iluminado e sombrio. Em meio à rua estreita, de mão e contramão, vinha um rapaz. Vestido com uma camisa de cor amarela e vermelha, bermuda larga de cor azul-marinho, sandálias de cor preta. Tinha pele parda e aparentava ter seus 22 anos. Na sua cabeça reluzia uma careca recém raspada e em seu rosto uma barba por fazer. Ele passa por um poste que ilumina sua face transtornada. Seus olhos transmitem pânico, medo e agonia. Seus passos rápidos e assustados seguem em direção ao armazém abandonado.

O silêncio pairava sobre o local. O rapaz, agora mais próximo do armazém, entrou no beco as pressas. Suas entranhas misturavam-se umas com as outras. Em meio a papéis jogados no chão e a um fedor de urina, o rapaz arria as calças e lá defeca. Em meio ao seu processo de excreção anal, ele começa a vomitar. Em meio às fezes, um vômito amarelo com pedaços de feijão, carne e macarrão. Zonzo com a situação, o indivíduo cai sobre toda aquela podridão. Seus movimentos estão lentos. Da sua boca, nenhum som consegue sair. Ele se arrasta como uma cobra para fora do beco. Seu estado é deplorável. No seu corpo manchas amarronzadas e amarelas se misturam a cor da sua pele e a cor das suas roupas.

Ele não enxerga a rua, ele não enxerga a luz, ele só vê demônios. Em seus olhos, a expressão de horror. Aqueles monstros bizarros com suas garras e presas, com seus olhos ameaçadores, com suas babas ensangüentadas com o sangue do seu braço decepado. Ele olha e se espanta. Seus gritos abalam o silêncio mórbido e indigesto daquela localidade. Moradores acendem as luzes de suas casa e apartamentos e vêem um homem com uma roupa toda suja gritar em desespero para sair dali, para devolverem seu braço, para que todos ele vão para puta que os pariu. Alguns residentes das casas descem e tentam falar com o rapaz que seu braço está no lugar, que não há nada ao seu redor.

- Fujam! Eles estão aqui! Demônios, monstros, putos, veados! Meu braço, que quero meu braço! – Assim grita o rapaz desesperado e aos prantos no meio de uma roda de pessoas que olhavam absortos o braço intacto e a expressão de medo. Todos olham, xingam, reprimem, chutam e o empurram para o beco. O “filho-da-puta”, assim ele foi chamado, caiu e ali com sua cabeça sangrando, se encolheu e chorou.

O mundo ao redor dele é demoníaco. Encolhido na posição fetal, ele chora lágrimas tóxicas. Seu corpo e roupas sujos de fezes, vômito e agora de urina, precisa da “brita”. Sua cabeça jovem e atormentada adormece com seus demônios, sem seu braço e sua vida jogada fora.


Sanção Maia

terça-feira, julho 22, 2008

Feitiçarias

Seus encantos, meu sonhos
Seus olhares, meus delírios
Seus feitiços, me dominam

Seus afagos, meus devaneios
Seus sorrisos, meus acanhos,
Seus beijos, minha entrada no paraíso

Sua meiguice, magia poderosa
Sua palavra, encantamento afável
Sua vida, fortunia da minha vida
Feiticeira da graça,
abraça-me no espaço
do nosso infinito intocável.

Sanção Maia
14, 15/04/08

domingo, junho 01, 2008

Anais, quintais

Anais do tempo.
Eu e você.
Brigas, gritos, brincadeiras.
Quintal de maravilhas,
infância feliz.

Anais do tempo.
Eu e você.
Nos mudamos, nós mudamos.
Quintal individual,
adolescências peculiares.

Anais de pouco tempo.
Distância intercontinental.
Nos vemos longe, mas estamos perto.
Quintal de amores,
não há só o sangue, ligação espiritual.

Anais de hoje.
Um dia antes da viagem.
Te vejo orgulhoso, feliz por tua jornada.
Quintal de orgulho,
sorriso sincero.

Anais de amanhã.
Felicidade familiar.
A saudade prolonga a felicidade.
Quintal de saudades,
afortunados por termos e amarmos você,
Querida Bubuxa.

Sanção Maia
01/06/08

Dedicada á Laila Luiza Santos Maia

quinta-feira, maio 15, 2008

Fin

Ínfimo afago,
ser calado.
Seus pés,
enterrados em poços de amargura,
enraízam nessa terra molesta, dura
raízes erméuticas, cadáver

Mundo vão,
mundo ermitão.
Deixe a carne deste funesto corpo,
dorso profano,
apodrecer nas entranhas, medonhas
desse errante solo

Ínfimo suspiro,
chuva de lágrimas.
Água que molha a terra,
terra que seca água.

….
….
….
….
Fim dos dias,
sete palmos no chão.

Sanção Maia
08/03/08

segunda-feira, maio 05, 2008

Dama das Esmeraldas

Vem você olhando,
fixando, acanhando...
Dama das Esmeraldas,
observa, hipnotiza

Dama das Esmeraldas,
contemplo, me perco.
Intensa sensação,
macia tentação
de almejar, seguro em mãos,
a Odisséia do teu brilho

Apolo, Sol Divino,
Seja guia!
As aventuras pelo brilho helênico,
É a tua especialidade.
Ajuda, teu filho no caminho esverdeado
ao encontro das Esmeraldas

Dama das Esmeraldas
olha, acanha, fascina.
Esplendor de esmeraldas, ilumina,
o caminho do encontro de almas

Salve o verde, olhar.
Salve o verde, hipnotizar.
Salve o verde, esplendor platônico.
Salve o verde, acanho esverdeado.

Damas das Esmeraldas,
verde apaixonar.

Sanção Maia
25/03/08

Dedicada à Érica Amorim

sexta-feira, abril 18, 2008

Variação

Noite silenciosa,
ruídos invisíveis
A lua ,de luz fria
ilumina e inebria
aquela união

União de corpos,
beijos ardentes,
afagos carregados de lascívia eminente
Carnificação do sentimento

A luz e os beijos
A lua e os afagos
A luz e a lascívia
A lua e o volir carnal

Amantes da carne
entregues a luxúria
com seus corpos marcados
pelas marcas da paixão

Noite barulhenta,
ruídos visíveis
A lua de luz quente,
ilumina e irradia
aquela união

Ventre e mastro,
copulação eminente,
existente, prazerosa
A abelha aproxima-se da rosa
e retira-lhe o néctar lúbrico

Momentos orgástico
a luz do luar
Momentos infinitos,
inebriantes inesquecíveis


Sanção Maia
16/11/07

sexta-feira, abril 11, 2008

Flor do esperar

Noite em claro,
espera longa.
Cronômetros parados,
ansiedade prolonga, delonga
a agonia de esperar

De longe um vulto,
Uma imagem, uma beldade
vem rodopiando, com seu floral-branco vestido,
as meninices de uma menina-mulher
entregue as meiguices do mundo

Sorria, flor do Esperar!
Seu sorriso, feitiço jogado por pétalas de Cronos
faz apaziguar, a vasca aguarda
do momento exato da confluência
entre menina, mulher e espírito

Rodopios! Flor do Esperar, roda!
Roda esse floral-branco vestido
e no alvorecer, faz girar, nascer
das raízes da tua doçura
o remédio do “amadurecer”

Faz voar sua pétalas,
faz voar seus encantos,
faz planar fantasia.
Uma pétala cai sozinha
na vastidão do mundo.
Uma pétala sozinha,
dá o brilho a tudo.

Sanção Maia
17/03/08

Dedicada a Ena Lelis