segunda-feira, julho 25, 2011

Humf, PAF, Plim...

Nada como olhar uma bunda bonita pra animar esse quarto fedido. São 08H27. A enfermeira "Raimunda" é ótima: nesses 10 dias que estou internado ela já me bateu um boquete que, segundo ela, "é um remédio que ajuda no tratamento"; além disso, ela me leva no terraço pra que eu fume. Mesmo com esse rabo, não vou comê-la. São 08h51 e penso na Márcia. A baixinha vem aqui todo o santo dia e ainda fica comigo até acabar o horário de visitas. Não quero admitir, mas gosto dela. Podia xingá-la de miserável, puta, desgraçada, mas não consigo. Talvez seja hora de rever meus conceitos. Não vou parar de fumar, muito menos de beber; não vou ser o cara com jeito de ameba por gostar de alguém; ela conseguiu que eu desse uma gargalhada... Humf.

A Latoya e a Tiffany a adoraram. De sua forma bem sutil já me avisaram pra "queta essa rola e ficar com ela. Você não come a gente, mas essa vamos deixar você trepar". São 09h15. Minha mãe vem me visitar e continua a me pentelhar falando dos malditos parentes. Amar minha mãe é um fato, mas chega uma hora que dá nos nervos.

- Todos querem te ver.
- E eu não quero vê-los. Você sabe bem disso!
- Você quase morre! Meu filho, deixe de ser amargo! Aproveite essa chance pra tentar...
- Para mãe! Merda, você sabe o por quê disso! Não enche, porra!

São 10h05. PAF! Minha mãe bate a porta chorando pacas e com muita raiva; desculpa mãe, mas não posso. A "Raimunda" entra e me coloca na cadeira de rodas e me leva pro terraço. Esse branco do hospital me dá náuseas; sinto falta do limo da parede do meu prédio e dos móveis velhos e mofados do meu apê. As cantadas bregas, esfregadas e pegadas no pau não param durante todo o caminho, nem no elevador. Nesse exato momento ela quer me bater uma punheta. PLIM! A porta abre e estou salvo pelo sinal de chegada. Ela fez cara feia quando pedi pra que quando a Márcia chegasse, ela a trouxesse aqui. São 10h13. Acendo um cigarro, trago, solto a fumaça e sorriu; acho que hoje eu terei uma surpresa. Mãe, nem você vai acreditar... É isso que eu vou fazer. Eu vou... PLIM! Tudo começa agora.


Sanção Maia
de 21/07 até 25/07.


Pra saber mais sobre esse personagem leia os textos - Parte 1/ Parte 2/ Parte 3/ Parte 4/ Parte 5

Não haverá mais postagens sobre esse personagem no blog. A partir de agora, toda a vida desse enigma será revelado num livro sobre ele. Aguardem! Agradeço a todos que leem o blog! Não deixem de acessar! Novos posts em breve! Beijos e Abraços

segunda-feira, julho 04, 2011

Música, magia, café...

O local era um pouco abafado, mas bonito. Haviam variedades na forma preparar chás, cafés, sucos, bolos, biscoitos, rosquinhas; mesas pequenas, circulares e de cor escura; aquelas cadeiras e sofás acolchoados com forros de cor vermelha e almofadas de diversos tons. O lugar era pequeno, mas o clima era o melhor: músicas gostosas, ornamentos bem feitos, atendimento excelente. Nesse altar de belezuras, tudo era perfeito para aquele dia.

Era um final de tarde de uma sexta-feira fria e agitada. Todos querendo ir para suas casas deitar em suas camas cheias de edredons, TVs com bons filmes e um gostoso chocolate quente. No café pouco movimento. Em dias como esse quase ninguém aparece. As mesas estavam vazias com garçons e garçonetes parados e o balcão sem fregueses jogando charme para a linda atendente. – BLÉM, BLÉM! – O sino tocou por causa da porta aberta. Um jovem, molhado pela forte chuva entra encharcado e pendura o casaco no suporte na parede. – BLÉM, BLÉM! – Mais alguém entre no local. Uma jovem, tão molhada como o rapaz que entrou, sacudia o corpo enquanto retirava o sobretudo. Eles sentaram-se em mesas opostas: ele se debruçou sobre seus papéis e ela ficou entretida com seus livros. Foram servidos e cada um pegou suas xícaras; eles iam bebendo e se entreolharam.

Em minutos uma torta e um salgado de queijo e presunto foram servidos nas mesas. Como num toque de mágica, a garçonete ligou o som e ampliou os sentidos dos fregueses: ele passava a mão no cabelo ainda molhado e ela ajeitava uma mexa do cabelo atrás da orelha. Ao som de Me and Mrs.Jones na voz de Billy Paul, um papel chega na mesa do rapaz com os dizeres “bonito cabelo e bonita música. Rsrsrs”. Com um sorriso tímido e aos melisma do cantor norte-americano, ele levantou e foi até a mesa daquela moça bonita. A doçura do ambiente ditava as regras daquele simplório flerte. A bossa-nova entre em cena; encostados num sofá o papo fluía; ele é escritor; ela é cineasta; Carta ao Tom na voz de Vinícius e Tom Jobim com Toquinho no violão aproximam o café, os povilhos e as mãos.

Uma seleção com as melhores de Piaf: um clichê que conquista qualquer casal. Para que trocar telefones? Um beijo de cinema francês resolveu tudo. Assim os aplausos daqueles que assistiam aquilo se estendeu. A magia de um café, a magia açucarada regada a música boa. Eles levantaram, deram as mãos e ao som de Minha Namorada num dueto entre Vinícius de Moraes e Odete Lara. - BLÉM, BLÉM! - A porta foi aberta. A chuva caia fraca; o rapaz abraçou e beijou a testa da moça; um aceno para platéia que respondeu com gritos e apluasos. - BLÉM, BLÉM – A porta se fecha.

Sanção Maia
04/07/11