segunda-feira, julho 04, 2011

Música, magia, café...

O local era um pouco abafado, mas bonito. Haviam variedades na forma preparar chás, cafés, sucos, bolos, biscoitos, rosquinhas; mesas pequenas, circulares e de cor escura; aquelas cadeiras e sofás acolchoados com forros de cor vermelha e almofadas de diversos tons. O lugar era pequeno, mas o clima era o melhor: músicas gostosas, ornamentos bem feitos, atendimento excelente. Nesse altar de belezuras, tudo era perfeito para aquele dia.

Era um final de tarde de uma sexta-feira fria e agitada. Todos querendo ir para suas casas deitar em suas camas cheias de edredons, TVs com bons filmes e um gostoso chocolate quente. No café pouco movimento. Em dias como esse quase ninguém aparece. As mesas estavam vazias com garçons e garçonetes parados e o balcão sem fregueses jogando charme para a linda atendente. – BLÉM, BLÉM! – O sino tocou por causa da porta aberta. Um jovem, molhado pela forte chuva entra encharcado e pendura o casaco no suporte na parede. – BLÉM, BLÉM! – Mais alguém entre no local. Uma jovem, tão molhada como o rapaz que entrou, sacudia o corpo enquanto retirava o sobretudo. Eles sentaram-se em mesas opostas: ele se debruçou sobre seus papéis e ela ficou entretida com seus livros. Foram servidos e cada um pegou suas xícaras; eles iam bebendo e se entreolharam.

Em minutos uma torta e um salgado de queijo e presunto foram servidos nas mesas. Como num toque de mágica, a garçonete ligou o som e ampliou os sentidos dos fregueses: ele passava a mão no cabelo ainda molhado e ela ajeitava uma mexa do cabelo atrás da orelha. Ao som de Me and Mrs.Jones na voz de Billy Paul, um papel chega na mesa do rapaz com os dizeres “bonito cabelo e bonita música. Rsrsrs”. Com um sorriso tímido e aos melisma do cantor norte-americano, ele levantou e foi até a mesa daquela moça bonita. A doçura do ambiente ditava as regras daquele simplório flerte. A bossa-nova entre em cena; encostados num sofá o papo fluía; ele é escritor; ela é cineasta; Carta ao Tom na voz de Vinícius e Tom Jobim com Toquinho no violão aproximam o café, os povilhos e as mãos.

Uma seleção com as melhores de Piaf: um clichê que conquista qualquer casal. Para que trocar telefones? Um beijo de cinema francês resolveu tudo. Assim os aplausos daqueles que assistiam aquilo se estendeu. A magia de um café, a magia açucarada regada a música boa. Eles levantaram, deram as mãos e ao som de Minha Namorada num dueto entre Vinícius de Moraes e Odete Lara. - BLÉM, BLÉM! - A porta foi aberta. A chuva caia fraca; o rapaz abraçou e beijou a testa da moça; um aceno para platéia que respondeu com gritos e apluasos. - BLÉM, BLÉM – A porta se fecha.

Sanção Maia
04/07/11

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