sexta-feira, janeiro 11, 2013

Recompensa


Havia uma única coisa que desesperava Jonas: a espera. Desde de criança, ele sempre detestou ficar aguardando qualquer coisa. E naquele momento, Jonas estava em pânico. Havia horas - quase dez - que ele andava de um lado para outro, sentava e levantava; saia para tomar um ar, fumar um cigarro, conversar com o segurança do local; umas três horas antes ele foi na banca de revista só para encontrar livros de bolso para ler. Mesmo assim, não adiantou: ele precisava que aquilo acabasse.

- Por favor, você pode me dar uma informação?
- O que o senhor deseja?
- Quando acaba isso?
- Esse procedimento é demorado, senhor.
- Moça, eu tenho mais de oito horas aqui! Eu quero uma resposta!
- Vou saber o que está acontecendo e volto para avisá-lo.

Jonas passa a mão no rosto e percebe que agora está sozinho. Ele não aguenta mais aquela sala com piso branco, paredes brancas, janelas espelhadas com contorno branco; pelo menos, os sofás, mesas e poltronas tem detalhes de madeira; além das plantas bem cuidadas, dos quadros de aviso e as placas de proibido fumar; Jonas precisa muito que isso acabe. Ele lembra da infância e de quando ele não conseguia segurar a urina na fila do banheiro e fazia nas calças, ou quando ele não conseguiu esperar o colega passar de bicicleta pelo quebra mola e passou na frente e quebrou o ombro, ou quando descobriu que Papai Noel demorou para colocar seu presente no sapato, pois ele estava na cama com sua mãe - na verdade, depois ele descobriu que Papai Noel era seu pai fantasiado e que aqueles gemidos eram seus pais transando.

Já se passavam mais de dez minutos e a recepcionista não havia voltado. "Calma Jonas, calma. Pense na terapia. Você é um árvore frutífera e tem que esperar o momento certo para os frutos crescerem", pensava ele descendo o elevador para fumar mais um cigarro. Aquelas luzes e botões e ventilador deixam ele sufocado. "Você é um filhote de condor aprendendo voar. Sinta o ar, respire e e voe", martelava na cabeça. A agonia dentro dele já passava dos limites quando chegou no térreo e sabia que o cigarro era só um paliativo. Ele foi para o lado de fora, cumpriments os seguranças e pega o isqueiro. De repente, uma voz no alto chama ele para quarto 4, ala B, 4º andar. Antes de passar pela porta ele abraça os seguranças - que riram e davam tapinhas nas suas costas.

Jonas corre feito um desesperado. Suas horas sem comer e regadas a água, cigarro e café haviam terminado. PAH! Ele tropeça num degrau, ainda na escadaria do segundo andar e sobe mancando; ele segura o grito de "porracaralhoputaquepariudegraufilhodaputa". Quarto andar. Ele abre a porta e segurando a perna direita - ele desconfiava que alguma coisa aconteceu com seu dedão, que doía muito - ele pára em frente ao quarto 4. Já era mais de 21h. Jonas entra e é cumprimentado pelas duas pessoas que estavam no quarto. Ele vai até o banheiro, toma um banho, troca de roupa e vai até a cama.

- Amor, onde você tava?
- Quase louco de esperar.
- Sabia que você ia surtar, por isso você não ficou na sala.
- Eu sei. Posso pegar?
- Você fez comigo e esperou nove meses. Já é um avanço, não? - riram.

Jonas pega sua filha e balbucia seu nome: Ana; Jonas pega sua filha e chora de felicidade; Jonas pega sua filha e decide que vai parar de fumar; Jonas abraça Ana e aprende o que, de fato, siginifica esperar.

Sanção Maia
11/01/2013