sexta-feira, dezembro 23, 2011

Um Natal de quem sabe dar uma festa

I
Se há uma festa de natal que é esperada, é a da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt. No bairro, os vizinhos já se acostumaram - e invejam até hoje - os festejos realizados por Seu Phrederico e Dona Amália. A casa toma todo um quarteirão: um terreno enorme onde moram os patriarcas da família, mais a família do caseiro, jardineiro, empregada - que é casada com o motorista - e ainda tem uma área reservada para criação de animais - aves, cães e o pônei de estimação da família.

A decoração é em proporções enormes: árvores enfeitadas com luzes e arranjos; o chão é traçado com linhas brancas, vermelhas e verdes assim como os portões de entrada; a casa é pintada de acordo com a cor da casa do Papai Noel; na varanda da casa há dois presépios - em tamanho real - do nascimento do menino Jesus e um do Trenó do Papai Noel  (com as renas e tudo!); os empregados se vestem durante a festa com as roupas dos duendes operários do São Nicolau.

A família é grande: são sete filhos - três homens e três mulheres e um garotinho de três anos adotado pelos patriarcas em 2009, treze netos e dois bisnetos. Na casa principal, há quinze quartos. Dentro da residência, uma grande árvore de natal está no meio da sala de estar rodeada de presentes. Nos corrimões da escada, nas grades de proteção do andar de cima, nos lustres... Tudo lembra o período o Natal. O caseiro e o jardineiro já mataram o peru e o pato; os cozinheiros preparam a refeição seleta para paladares exigentes; as bebidas já foram armazenadas nas temperaturas ideias. Tudo é preparado com o máximo cuidado.

É como dizem os vizinhos que ficam de fora da festa: Os Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt sabem dar uma festa.


II
Seu Phrederico e Dona Amália preparam-se para receber os familiares e agregados no hall de entrada. Em frente às escadas da entrada, os empregados esperam os convidados para poder estacionar seus carros e levá-los até a sala de festas. Os primeiros parentes chegam e vão procurar os anfitriões. Uma equipe de câmeras e fotógrafos - uma produtora foi contratada para gravar vídeos e fotografar os melhores momentos da festa – param para registrar todos que entram.

As horas passam e casa da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt já está cheia. Os vinhos, whiskys, pró-secos, sodas italianas são servidos juntos com os aperitivos. Vovô Phrederico conta histórias para os mais novos sobre suas aventuras de juventude - um emaranhado de mentiras ou histórias exageradas; os tios mais velhos, Beta e Jerônimo discursam sobre suas carreiras de diplomatas; Philipe - um dos netos preferidos - toca o piano alemão (fabricado em 1891 e que chegou na casa há mais de 20 anos )  perto da árvore; Ezequiel - a criança adotada - tira a roupa e sai correndo pela sala; Zeca e Sophie vão para biblioteca; alguns netos, o tio Haroldo e a tia Marie (mãe de Sophie) sobem as escadas. "A festa sempre se dispersa antes da ceia", pensa a matriarca enquanto grita com um dos duendes sobre a demora em servir os canapés.

Faltam trinta minutos para a meia noite. Os familiares se espalham pela casa, cada um com seus interesses. O Natal da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt sempre tem suas surpresas,  mas  nesse ano, as coisas passaram a desandar.


III
Os minutos passam e em um dos quinze quartos da casa, risos. Do outro lado da porta, Lucca, Angela, Diogo e Valerie estão chapados com seus tios Haroldo e Marie. O baseado vai, o baseado vem; alguns ácidos para entrar numa onda ainda maior. Todos riem e se tocam: Tio Haroldo pega na bunda do Diogo que pega nos peitos da tia Marie que pega no pênis do Lucca que beija a Angela que inicia uma masturbação na Valerie. Em poucos minutos, a cama de casal e as poltronas do quarto estão sendo usadas como instrumentos de prazer: Tio Haroldo enraba Lucca que faz sexo oral em Valerie; nas poltronas – que foram colocadas de frente uma para outra - Diogo está sentado com a Tia Marie em cima do pênis dele enquanto Angela se masturba com uma mão e faz um “fio terra” no garoto. Nada de incomum para eles: incesto sempre foi um dos hobbies destes tios – afinal eles eram curiosos em saber o que era cabaço e perderam a virgindade um com outro.

Já na biblioteca – que fica ao lado de um lavabo no lado oeste da casa – o som da festa faz os convidados não escutarem os livros que caem enquanto a sessão sado masoquista de Sophie e Zeca é intensa. Em cima da grande mesa, o rapaz com a bunda vermelha e virada para cima e grita: “Mais! E não esquece de meter no meu cu”. Sophie está sem o vestido longo - há algum tempo - e folgado e mostra suas típicas roupas de colegial masoquista (uma saia e uma blusa curta feitas de látex brilhante preto). Uma estante ficou inclinada na parede, pois a garota havia amarrado há alguns minutos atrás o Zeca de forma errada e acabaram por derrubar o guarda-livros. “Eu sempre quis te bater com Dom Casmurro só por que você vivia me chamando de Capiputa!”, grita e bate forte - com um exemplar de 1920, com capa dura do livro de Machado de Assis - Shopie na bunda do Diogo, em lágrimas de felicidade.

Faltam quinze minutos para meia para o dia do nascimento de Cristo e Seu Phrederico sumiu; Dona Amália está há quase cinquenta minutos na cozinha humilhando os empregados e já rasgou um gorro de alguns duendes; na festa, Tia Vilma está bêbada e conta para os sobrinhos sobre seus amantes gregos, italianos, japoneses - que ela detestou -, africanos,...; Tio Válter e Tio Humberto (marido da Tia Vilma) dormem na escada da entrada e ambos estão sujos com seus próprios vômitos. A festa está para chegar ao seu clímax e o Papai Noel - um ator aposentado que trabalha de zelador em um pequeno teatro - fuma um cigarro e bebe uma dose do "despertador" para trabalhar.

Um som estridente abalada os eventos da noite e aumenta cada vez mais.


IV
Os animais se soltaram e passam pela frente da casa a dez minutos do Natal. Os Tios Válter e Humberto são acordados por bicadas de patos e mordidas cães; todas as pessoas dentro da casa correm para se proteger: cinco netos e Tia Vilma (mãe do Zeca) entraram na biblioteca e tracam a porta; alguns sobrinhos vão para o andar de cima e correm para o quarto mais afastado juntos com a Tia Beta; a Vovó Amália sai pelos fundos da casa e chora por toda aquela tragédia. Ela, alguns empregados e Tio Jerônimo saem correndo pelo quintal. - Meu Deus! Que pavoroso é isso seu filho da puta! - grita e joga uma pedra a senhora Amália Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt e desmaia.  Seu filho e os duendes, não acreditam no que viam: Phrederico Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt, estava nu e embaixo do pônei. - Vem cá seu potro gostoso! - Gritava o velho louco e patriarca da respeitável família Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt - exemplo para toda sociedade local – que masturbava o pônei de estimação.

Cinco minutos para meia noite e todos, agora, ouviam gritos e ruídos de pancadas. Os animais foram postos em seus lugares e cada membro da família senta e espera. O primeiro a chegar e a quase cair do sofá foi o tio Valter; da biblioteca vieram Tia Vilma, sua trupe e Zeca e Sophie - sensualmente vestida com latéx; dos andares de cima Ezequiel está assustado junto com todos os primos e uma Tia Beta chorosa; com eles Tia Marie, Tio Haroldo, Lucca, Angela, Diogo e Valerie riem dos vídeos feitos no quarto; Vovó Amália entra carregada por um tio Jerônimo que não consegue falar; Vovó Phrederico entra pelado, dançando - algo similar ao arrocha - e com um garrafa de whisky na mão.

Philipe entra na sala só de cueca e beija um duende - apenas com o gorro - na boca e fala – “União Estável. Nos casamos ontem e esse era o início da nossa Lua de Mel”. Os fotógrafos, câmeras e a banda param atônitos com a confusão - um guitarrista perdeu sua guitarra e um câmera foi mordido por um dos cães da casa - que não sabem o que fazer. Apenas dois minutos para o Natal e Vovô se prepara e pede para o baterista rufar os tambores. Um minuto e a banda volta a tocar Dingon Bell; cinquenta segundos e Vovó acorda e desmaia ao ver seu marido ainda nu; trinta segundos e um início de briga entre os irmãos é apartado; dez segundos e Ezequiel não fala mais nada; três, dois, um... Natal!

Todos se abraçam e se beijam. Vovô diz que ama vovó que discursa que o importante é a família e que vai ajeitar tudo amanhã e que todos os seus filhos ouvem um sermão sobre família e que seus netos e bisnetos são benção de Deus e que tudo vai se resolver. Após isso, todos abrem seus presentes, se beijam e abraçam - Tio Haroldo aperta a bunda da Fê, uma sobrinha que ainda não maculou - e voltam à festa.

Fitas, fotos, celulares, iPhads, câmeras... Tudo foi confiscado e cada testemunha do Natal mais incrível do bairro saiu com um dinheiro a mais para ficar com o "bico fechado". O Papai Noel ficou - já que não tinha para onde ir. Antes do final da festa, Seu Phrederico, o patriarca, diz a todos que irá dormir no estábulo.

E mais uma vez, a festa da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt foi marcada por muitos comentários no bairro.


V
Nunca se viu uma festa no bairro um festa como a dos Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt: sempre grandiosa e fechada para estranhos e barulhenta.

É como dizem os vizinhos que ficam de fora da festa: Os Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt sabem dar uma festa.


Sanção Maia
22/12/11


Esse é o último texto Canto do Sanção deste ótimo 2011. Muitas produções e muito aprendizado. Obrigado a todos que leram os texto postados esse ano no blog - quem gostou e quem não gostou . Espero que ano que vem vocês continuem a acompanhar os devaneios deste pretensioso estudante de jornalismo que quer tirar um onda de escritor. Feliz Natal e bom Ano Novo pra todo mundo! :D

quarta-feira, novembro 30, 2011

Do outro lado - Parte 1

É de manhã. O barracão abandonado está sendo iluminado pelo sol e, por dentro dele, a escuridão é dissipada por feixes de luz que entram por buracos nas telhas de eternit e paredes velhas. Aos poucos, todo o conteúdo do local aparece: pedaços de madeira, teias de aranha, baratas - vivas e mortas -, muriçocas, poeira e um garoto - pequeno, franzino, pele negra, cabelos crespos e com trapos sujos e de enormes para sua estatura - de nome João. O menino é acordado por um fino fio de luz que ilumina seu rosto miúdo. Ele se espreguiça, levanta, dobra o seu jornal cobertor e seu papelão cama, os esconde embaixo de um monte de madeira e sai para tomar seu café da manhã.

Ao sair por um buraco nos fundos do barracão, João olha ao seu redor: prédios, casas, becos, paralelepípedos de uma época antiga onde escravos e criminosos eram chicoteados e assassinados - esse lugar se chama Pelourinho. João sobe e desce as intermináveis ladeiras do Pelô a procura de comida; as casas de cores vivas - e algumas quase derrubadas - passam ao seu lado e dentro delas pessoas dizem não para alguns pedidos de um "bucadinho" de comida: aquela gente pobre e batalhadora não desperdiça comida com gente que não conhece. Então,o garoto para na escada do Pagador de Promessas e vê os restos de uma boa noitada de festas - bitucas de cigarro, latas de cerveja, refrigerante e Pitú Cola vazias, espetos de churrasquinho - e no meio do lixão festivo encontra uma maçã pouco mordida: ele olha, faz cara feia e sem delongas pega, limpa na camisa suja e morde seu café da manhã. Seu desjejum é saboreado com mordidas lentas, para render. João completa sua alimentação com um pouco de água de uma garrafa que encontra já na saída das escadas, perto de uma canto com cheiro de urina. Antes de sair, pega algumas bitucas, tira uma caixa de fósforo do bolso e ascende o restante do cigarro.

"Tá na hora de encontrá os parcêro", pensa João, que sobe para a praça Tereza Batista. Passa pela Praça do Reggae, Casa de Jorge Amado; passa pela baiana e pelo rasta que mandam ele ter juízo; passa pela polícia - dentro da Rocinha - que olha ele pelo canto; olha a imensa onda de pessoas que não querem encostar nele. - Bôra lerdeza! - grita um dos meninos do grupo. Enquanto corre para se juntar aos companheiros um estrondo vocal: um policial chega aos gritos de "Saí pra lá pivetada do caralho! Bora seus sacizêro! Vaza logo porra!" para a molecada que corre e espera João em frente a estátua de Zumbi.

Logo, eles esquematizam as ações : são 12 garotos - entre eles, 4 garotas - que se dividem em quatro grupos de três. O grupo se tornou famoso por praticar pequenos delitos - roubos de carteira, relógios, pulseiras, celulares e outros objetos de turistas - e pelo alto consumo de drogas - alguns usam crack, outros maconha, outros cola - nas becos e casas depredadas do Centro Histórico. Eles se separaram: João fica com a Praça da Cruz Caída - muitos turistas e muita polícia - junto com Pitigate (aos 13 anos já transou com todos os meninos e meninas trupe) e Navalha (ele tem o rosto cortado na bochecha direita por ter apanhado de um travesti).

As horas passam. Já no fim da tarde, eles arrecadaram cinco celulares, um relógio e quinhentos reais. João pega sua parte e chama Navalha; ambos vão fumar maconha comprada; ambos querem uma noite só para eles. Eles vão ao barracão onde João dorme e ascendem o baseado. Começam a rir e, depois de um tempo, a se tocar, e se beijar. Um beijo forte e bruto - estão se sentindo mais fortes por terem se alimentado com a feijoada comprada antes de irem para o barraco. O beijo é longo e tiram as roupas: ninguém deve saber que eles fodem um com o outro. A noite continua longa e eles param exaustos um ao lado do outro, fumando o último baseado. Pouco tempo depois, Navalha levanta e vai embora. Antes de ir, ele beija João na boca. João termina um cigarro, pega seu jornal e se cobre; João olha para as baratas, paras teias de aranha, olha os fachos de luz lunar; João boceja, lacrimeja, fecha os olhos e vai dencansar.

Sanção Maia
30/11/11

sexta-feira, outubro 28, 2011

Crônicas do busão - Divagações femininas

Todo mundo para pra pensar na vida quando está apertado, esmagado ou sentado - antes de dormir e babar - no busão. Bem, decidi que terei uma série aqui no blog intitulada "Crônicas do busão". Já postei o primeiro texto da série que é "Pauta do Dia". A partir de agora vou deixar você com o "Divagações femininas" . Boa leitura!


- PAF!

- Porra, colé sinha puta?!?

- Puta é a senhora sua mãe que gostaria que pegassem naquela bunda velha e caída sem permissão, seu viado!

- Você tá merecendo uma porrada nigrinha! VAGABUNDA!

- Então venha ninho, venha! Se bote disgraça!

Nada aconteceu depois, mas o perigo era constante – nessa rápida história, o babaca do meu vizinho apertou a minha bunda, semanas atrás, e levou uma mão aberta na cara. Depois disso, sumiu. A mãe dele contou para minha vó que ele se mudou para o interior, mas a vovó “descobriu” com uma amiga dela - que trabalha como técnica de enfermagem no Hospital Geral - que disse que o safado está na UTI; a mulher deu com língua nos dentes e contou pra minha vó que ele agarrou a esposa de um fazendeiro de alguma roça braba e levou cinco tiros: dois na cabeça, e três no peito. Não tenho pena; mereceu por ser ousado demais e achar que mulher é lixo. De alma lavada, dou um sorriso de tranquilidade.

 - POW, POW, POW, POW! – pensar num ônibus quando ele passa em alta velocidade por vários buracos de uma avenida esburacada – nesse caso, a Avenida Paralela com sua movimentação intensa, seus carros em alta velocidade e seus barbeiros filhos da puta –, é complicado. Me ajeito no banco duro desse Pituba/ Castelo Branco,  pego minha garrafa com água e uma gota cai na minha calça jeans azul com lycra; um garoto com farda - de algum colégio de mauricinho - olha para minhas coxas. Homens são ridículos desde nascença e na adolescência pioram; a coisa fica mais feia quando viram adultos com o pensamento “mulher-cratera”: mete, mete, mete, mete em todos os nossos buracos, deixa tudo assado e depois de gozar, vira de lado e dorme.

De pensar que o Ed com todo seu charme e aquela cara de foda gostosa quis fazer isso comigo; lembrar que o cara me levou naquele quarto de motel barato, lá na Boca do Rio, só porque o pernoite era 30 reais com jantar incluso; e na hora da foda, uma cama ruim e o cheiro de desinfetante peba que incomodava muito. Quando pensei que as coisas iam melhorar e que ele iria me chupar a boceta, o tapado inventa de colocar o dedo lá dentro – como se isso fosse bom; quando achei que ele ia meter gostoso, o idiota inventa de querer gozar na minha boca; mordi a cabeça daquela rola média e fina e ele parou de me usar como uma qualquer. Acho que o ridículo da noite foi à hora de implorar pelo anal... Tsc. Ele pensou que eu fosse a Sandy, mas não é pra qualquer um que dou à bunda. Tá difícil encontrar um homem que me pegue certo, que não me faça de buraco, que saiba usar sua ferramenta. Bem, o jeito é ver se aparece algum que preste, mas não dou atenção a isso, afinal de contas, preciso de muito mais que uma pica pra me fazer feliz.

Não posso esquecer que hoje é dia de pagamento e é dia de pagar o cartão, o celular, a conta de luz e a conta de água. E pra deixar o dia mais emocionante, minha TPM veio com tudo e além dela, das contas e dos babacas, tenho que acordar cedo pra ir pro estágio e suportar uma colega que quer me convencer que sou lésbica; aguentar as roçadas dos tarados no ônibus, o trabalho na lanchonete da minha mãe – com vários clientes chatos e melequentos e o fedor constante do Comércio – e depois uma noite inteira de aula. Pelo menos pego carona com meu padrasto, que vai buscar minha mãe todo dia no trabalho – estudar no mesmo bairro da empresa da sua família tem suas vantagens. Porque o celular tem que tocar agora?

- Oi Ed, bom dia! Olhe, tô no ônibus! Eu te ligo mais tarde tá? Desculpa não poder falar, é que tá muita zoada aqui dentro e nem tenho como te ouvir. Tchauzinho!

Enquanto o Ed acha que foi o sexo da vida dele, eu só quero alguém que acompanhe meu ritmo em todos os momentos. Acho que essa é uma questão que sempre penso: será que vou ser a solitária que transa com muitos e que não acha ninguém? Será que é tão complicado ser uma mulher que tem uma vida além da sombra de um homem? Será que eu não devia experimentar o lesbianismo? Aí, como eu queria que aparecesse uma luz. Bem, tá na hora de levantar e soltar no ponto. Puxar a corda, andar alguns quarteirões, ouvir piadinhas, suar feito uma louca e começar a trabalhar.

Não vou pensar em nada além da minha vida... – PAM! – Ai que som horrível sai quando puxo essa corda. Trabalho e faculdade: essa vai ser a meta; esse vai ser meu principal... Nossa, que gatinho. Será que ele quer meu telefone?

Sanção Maia
27/10/11

quarta-feira, outubro 19, 2011

Meus dias de rock’n roll – Parte 1

I

Nunca vou esquecer aqueles dias. Sempre que lembro dou boas risadas. Como foi bom e como tudo mudou: conheci a Lisandra - minha esposa -, comecei a ganhar dinheiro, passei no vestibular; iniciei a vida fumante, larguei a Maria Joana e comprei o "Trevoso", meu Fiat 147 vermelho - fodido, mas um grande companheiro. Eram meados de 2005 e eu estava no pré-vestibular e sempre saía as sextas pra tomar uma breja com a turma antes dos ensaios - eram os quatro garotos do Centro, os Strikes Flythers (isso era um nome de banda): Jota (eu, baixo), Marco "The Dogs" (bateria), Cabron (voz e guitarra) e Miltão (guitarra)

Saíamos de Nazaré, onde era o cursinho, só pra beber no bar de Seu Buiú, lá na Barroquinha. Comida barata, cerveja barata, conversa com as baratas que passavam sempre pelo chão. Quando dava umas 15h – chegávamos ao bar quase sempre às 13h30 – subíamos as escadas que davam ao lado do Espaço Glauber em meio aos camelôs, as pessoas vindas da Carlos Gomes ou que subiam da Barroquinha para o Centro; passávamos pela Avenida Sete e sempre parávamos para comprar cigarros na banca em frente da Praça da Piedade ou para conversar com Dona Virginia, que contava histórias de sua vida como puta desde os 18 anos – ela trabalhou como prostituta até os 65 e morreu recentemente, com 71; o Miltão parava sempre na livraria pra ver livros com desconto e aí íamos para o um estúdio bem baratinho no Politeama. Nesse período ainda não tinha carro. O Trevoso só veio depois do vestibular.

Quando chegávamos ao local do estúdio - uma casa vermelha com detalhes brancos e grades pretas-, tocávamos a campainha. O Lima – músico frustrado, que virou dono de estúdio e tecladista de banda de arrocha - olhava pela janela e abria a porta. – Já comeram água né? Bando de bebum! Entra logo e vê se fala baixo pra não acordar a minha cria – Nunca entendi o problema dele: chamar a filha de cria... Bem, íamos pro andar de cima e abríamos os “cases” (umas capas velhas que levavam os instrumentos) das guitarras, plugávamos os instrumentos e começava o esquente.

- Hey ho, let’s go! Hey ho, let’s go! – e nosso esquente era sempre o Ramones. Nosso repertório era bem autoral. Dos outros, mas autoral. A Strikes Flythers tinha apenas dois meses. Para o objetivo inicial, ela dava certo: tocava na casa de amigos, encantava as meninas, ganhava bebida de graça. De três músicas do Ramones no primeiro mês, passamos a tocar Raul Seixas, System of a Down, Legião Urbana, Cazuza e arriscávamos Led Zeppelin, em seis meses. Da casa dos amigos, passamos a tocar em festivais pequenos, bares e festas undergrounds. Não acreditávamos no que acontecia. Estávamos nos tornando um banda de verdade.

II

Lembro do dia que o Cabron trouxe nossa primeira música autoral, no intervalo da aula do cursinho. Estávamos sentados, embaixo de uma árvore de ornamento de calçada, com bancos de madeira pequenos ao redor. Sempre fumávamos ali em baixo por causa da brisa que batia.

- Mans! Fiz uma música! Bem fácil de tocar!

- Canta ela pra gente – pediu o The Dogs.

- Sem violão não dá, né? – contra-argumentou o Cabron – Saí atrasado e esqueci de trazer.

- Canta logo, porra! – pedia de forma sutil.

- Ok... Preparem-se – o Cabron tinha uma voz grave e muito legal de ouvir. Dava umas rasgadas que imitavam nitidamente o Eddie Vedder.

- Era uma tarde fria de verão e eu em casa sem fazer nada então/ Pensei, vou fazer um rock’n roll/ Pensei, eu vou tocar é rock’n roll/ Minha mãe dizia saí daí moleque/ Troca essa roupa e pega a mobilete/ E vai comprar o pão para o café/ E deixe tocar essa música de mané.

- É só isso - disse sem graça - Falta o resto. Pensei na letra em quanto tomava café lá em casa.

Todos pararam. Um silêncio estranho e um medo de falar – até hoje não entendo o por quê. Afinal, até quando acabamos a banda foi pacífico – estava no ar. Então, o sempre salvador Miltão tragou a fumaça do cigarro, olhou pra todo mundo e disse:

- Quero gravar esse som. Hoje ainda! Vamos pegar os instrumentos e começar a terminá-la. Vamos fazer sucesso nessa porra! - A gente levantou, riu e começou a falar o que iríamos fazer com a música. E assim começaram os dias mais loucos das nossas vidas.

Sanção Maia
19/10/11

quinta-feira, setembro 22, 2011

Para um momento de recomeço


Foi exaltante ouvir
Aquelas palavras brutais, animalescas
que chegavam até mim. ser de inocência
como deleite de liberdade

Ah, coração libertário,
livre como pássaro,
voo de falcão, magnífica sensação
de voar por linhas e cores,
de planar por semblantes e formas...
Emancipação!

Respira, flutua,
mergulha desimpedido
Liberta, desata,
segue o destino
Resgata, renova
o ar dos pulmões
Recria, reinventa
num voo cheio de emoções

Sanção Maia
22/09/11

quarta-feira, agosto 24, 2011

Literatura Ilustrada

Essa é um parceria entre eu e minha amada mulher, Aline Cruz do Colorlilas. O Literatura Ilustrada é uma junção de blogs, dengos (só uma forma de continuar a "simbiose" do casal) e arte. Ela cria ilustras e eu produzo textos; eu crio textos e ela produz ilustras. Então, sem mais delongas, vamos começar com o  primeiro texto, Clic. Boa Leitura!

I
- Bernado, vem cá!
- Pêra amor, tô descendo!
- Vem cá por que achei uma foto que nunca tinha visto aqui!
- Pronto! Que foto é essa?

- Não sei, achei nas suas fotos.
- Putz! Não tá reconhecendo, Lê?
Bernardo riu. Sabia quem eram, sabia o que era.
- Meu Deus! Bê somos nós? - Riu Letícia, riu Bernardo.

Em poucos segundos ambos se viam novamente em uma tarde de março de 2011. Muito sol  numa Salvador de maré forte. Dentro do ônibus - Barra R1/ Sussuarana – Bernardo e Letícia estão abraçados nos bancos do fundo. Ele com um fone no ouvido e ela encostada em seu ombro cochilando. A velocidade de ônibus nas curvas e nas retas os faziam ficar mais juntos.

- Bê tá chegando no ponto?
- Sim, já estamos pra descer.
- Te amo!
- Também te amo.

Desceram no ponto e passaram pela passarela comprida da Tancredo Neves. Ele estava calado e diferente naquele dia; Letícia – sempre tagarela – falava sobre sua semana e da saudade que sentiu. Bernardo estava decidindo o que fazer. Esse foi um dia especial.

 II
- O que você tava pensando amor?
- Poxa Lê, essa foi a foto da festa na casa do Dimas. Bom você sabe que dia foi esse né?
- Tá com medo que eu não lembre é? – riu Letícia
- Não! Quer dizer: é bom saber que você lembra. Afinal, esse foi um dia difícil pra mim.

Letícia olha para Bernardo com o mesmo olhar dengoso daquela tarde de março de 2011. Eles foram rápido ao Salvador Shopping comprar um livro pro amigo Dimas que apresentou o casal. Havia apenas um mês que eles se conheciam e sempre saiam juntos – nem ao menos sexo eles tinham feito. Subiam as escadas rolantes e chegaram ao segundo piso. Passaram por homens, mulheres, garotos e garotas que pareciam saídos da uma fábrica: todos agiam iguais ou estavam vestidos iguais e falando as mesmas coisas. A Letícia falava e olhava curiosa. “Ele tá calado... o que será?” pensava ela que continuava tagarelando.

Eles saíram e passaram novamente pela passarela. O aniversário é no bairro da Pituba. Esperaram o ônibus de mãos dadas e Bernardo apreensivo. “É hoje! Como, não sei, mas é hoje” refletia ele. O ônibus BTU parou e eles entraram. Abraçados – e aos beijos - no fundo do ônibus eles riram; ela ainda continuava curiosa e ele desconversava; ela curiosa e ele apreensivo.

 III
“Essa é a música!” pensou Bernardo quando chegou no apartamento. O Dimas – com sua cara e corpo iguais ao de Buda – abraçou o casal.

 – Vocês combinam mesmo! Já namoram né? – Eles se olharam - disfarçaram  - e viraram para o sofá verde em frente e a TV de LED 42 polegadas que completava o conjunto de um hack de cor escura com aparelho de som e dvd, vários filmes e cds e alguns livros espalhados. Eles entraram  na sala ao som de um violão que tocava Stairway to Heaven e vão para varanda. Lá estavam: Lucas, Vinícius, Chico e Vander – que tocava o vilão – junto com a Nessinha, Jú, Raina, Lica – a cantora.

- Tô com fome Bê. Vontade de comer um hambúrguer ou algo parecido. Quero carne! Bê? - Bernado estava sério “É essa, é essa!” quando CLIC! Claúdia – mulher do Dimas – tirou a foto.


 - Olha que foto legal! Que bom que vocês vieram! – “a Buda feminina” abraçou o casal também. Eles entraram na varanda e falaram com todos. A noite apareceu. “São 21h37. Vai Bernardo vai!” gritava dentro da sua cabeça Bernardo e foi aí que ele tomou uma decisão.

IV
- Passa o violão Vander. Vou tocar uma música – Bernardo tremeu ao dizer isso – Vocês gostam de bossa?
- Toca logo porra! – pediu Dimas.
- Ok... É, vamo lá.

“Se você quer ser minha namorada...” todos pararam. Bernardo olhava para Letícia que olhava para Bernardo que tocava nervoso para Letícia que olhava encantada para Bernardo que dedilhava envergonhado para Letícia que esperava ansiova  Bernardo.

- Bê, eu digo que sim – Letícia quase derrubava o violão, o banco, o Bernado e o beija. Todos riram, gritaram, comemoraram...

 V
- Esse foi o melhor dia da minha vida Letícia. Há cinco anos te encontrei e no dia dessa foto... Bem, você sabe... Te amo!

Letícia agarra o Bernardo que quase cai com a Letícia que aperta o Bernardo que levante a Letícia que deixa a foto voar...

Texto: Sanção Maia
Ilustração: Lila Cruz
16/08 até 23/08

quarta-feira, agosto 10, 2011

Crônicas do busão - A pauta do dia

Eram quase 7 horas da manhã e o caminho para o trabalho estava na metade. Sabe como é: toda aquela “empolgação” de uma segunda-feira dentro de um ônibus lotado – passei 15 minutos em pé sendo imprensado por pessoas dos mais diversos cheiros: desde espantè negrinhè até a famosa catinga. Quando sentei, fiquei ao lado de uma senhora que com uma "silhueta exagerada", que me esmagava contra a janela e também tinha um perfume especial. O busú subia a detonada Ladeira da Montanha - famosa por seus usuários de crack e prostitutas baratas - devagar, por causa do peso. O veículo passou por dois homens que penduravam cartazes ininteligíveis por causa da velocidade do busão.  Os paralelepípedos, o asfalto e a visão da Baía de Todos os Santos com suas águas azuis combinando com o céu anil conseguiam prender a atenção até mesmo dos mais revoltados passageiros.

O ônibus parou no semáforo: Castro Alves aponta para um conjunto de casebres do outro lado da rua; mesmo morto, o poeta ainda luta pelos seus iguais. O sinal esverdeou e o ônibus virou para Carlos Gomes. Um forte cheiro de lixo invadiu o coletivo. A senhora achou que tava em casa e tossiu alto no meu ouvido; valeu os gritos do Dave Grohl e as guitarras do Foo Figthers por abafarem aquele som de cachorro sendo espancado.

 O dia ainda clareava vagaroso. Como dízimo, o ônibus parou em frente à Igreja Universal do Reino de Deus e bem ali aconteceu à pauta do dia: ao olhar para o outro lado, um casal de moradores de rua passeava de mãos dadas. Para muitos nada de mais, só que a felicidade estampada nos rostos deles me chamou atenção ; ambos estavam sujos e provavelmente fedorentos; roupas maltratadas, cabelos desarrumados, mas tinham delicadeza em cada gesto. Eu sorria, não por ter visto algo engraçado, mas por ver que até mesmo em meio à demonstração da falta de cuidado da sociedade se encontram pessoas capazes de se amar. Enquanto as pessoas subiam e desciam eles se olhavam e riam românticos e apaixonados.

Foi aí que eles pararam. O homem com cabelo e barba enrolados e a mulher pequena e com roupas muito maiores que o tamanho dela; ele se aproximou e a olhou; ela se afastava com certo receio; ela tentou abraçá-la e ela se afastou; ele tentou novamente e ela se afastou, ele conseguiu. Ele tentou encostar os lábios nela e ela hesitou, mas não demorou pra acontecer o beijo. Foi um selinho, dois selinhos e um beijo desentupidor de pia digno de Tony Ramos e Glória Pires no final da novela das 20h. Ela era baixinha e ele a puxou pela bunda magra para cima. O amasso continuou – Deus é mais! – falou algum idiota com cheiro de esgoto perto de mim. O motô arrastava o carro e eu ria; o motô arrastava o carro e eu ria.

O caminho continuou com fedores, falta de espaço e educação no mesmo lugar. Talvez ninguém tenha percebido, mas nessa segunda de “empolgação”, a miséria perdeu - pelo menos uma vez - para o sentimentalismo. E lá fui eu para o meu dia...

Sanção Maia
08/08 até 10/08.

segunda-feira, julho 25, 2011

Humf, PAF, Plim...

Nada como olhar uma bunda bonita pra animar esse quarto fedido. São 08H27. A enfermeira "Raimunda" é ótima: nesses 10 dias que estou internado ela já me bateu um boquete que, segundo ela, "é um remédio que ajuda no tratamento"; além disso, ela me leva no terraço pra que eu fume. Mesmo com esse rabo, não vou comê-la. São 08h51 e penso na Márcia. A baixinha vem aqui todo o santo dia e ainda fica comigo até acabar o horário de visitas. Não quero admitir, mas gosto dela. Podia xingá-la de miserável, puta, desgraçada, mas não consigo. Talvez seja hora de rever meus conceitos. Não vou parar de fumar, muito menos de beber; não vou ser o cara com jeito de ameba por gostar de alguém; ela conseguiu que eu desse uma gargalhada... Humf.

A Latoya e a Tiffany a adoraram. De sua forma bem sutil já me avisaram pra "queta essa rola e ficar com ela. Você não come a gente, mas essa vamos deixar você trepar". São 09h15. Minha mãe vem me visitar e continua a me pentelhar falando dos malditos parentes. Amar minha mãe é um fato, mas chega uma hora que dá nos nervos.

- Todos querem te ver.
- E eu não quero vê-los. Você sabe bem disso!
- Você quase morre! Meu filho, deixe de ser amargo! Aproveite essa chance pra tentar...
- Para mãe! Merda, você sabe o por quê disso! Não enche, porra!

São 10h05. PAF! Minha mãe bate a porta chorando pacas e com muita raiva; desculpa mãe, mas não posso. A "Raimunda" entra e me coloca na cadeira de rodas e me leva pro terraço. Esse branco do hospital me dá náuseas; sinto falta do limo da parede do meu prédio e dos móveis velhos e mofados do meu apê. As cantadas bregas, esfregadas e pegadas no pau não param durante todo o caminho, nem no elevador. Nesse exato momento ela quer me bater uma punheta. PLIM! A porta abre e estou salvo pelo sinal de chegada. Ela fez cara feia quando pedi pra que quando a Márcia chegasse, ela a trouxesse aqui. São 10h13. Acendo um cigarro, trago, solto a fumaça e sorriu; acho que hoje eu terei uma surpresa. Mãe, nem você vai acreditar... É isso que eu vou fazer. Eu vou... PLIM! Tudo começa agora.


Sanção Maia
de 21/07 até 25/07.


Pra saber mais sobre esse personagem leia os textos - Parte 1/ Parte 2/ Parte 3/ Parte 4/ Parte 5

Não haverá mais postagens sobre esse personagem no blog. A partir de agora, toda a vida desse enigma será revelado num livro sobre ele. Aguardem! Agradeço a todos que leem o blog! Não deixem de acessar! Novos posts em breve! Beijos e Abraços

segunda-feira, julho 04, 2011

Música, magia, café...

O local era um pouco abafado, mas bonito. Haviam variedades na forma preparar chás, cafés, sucos, bolos, biscoitos, rosquinhas; mesas pequenas, circulares e de cor escura; aquelas cadeiras e sofás acolchoados com forros de cor vermelha e almofadas de diversos tons. O lugar era pequeno, mas o clima era o melhor: músicas gostosas, ornamentos bem feitos, atendimento excelente. Nesse altar de belezuras, tudo era perfeito para aquele dia.

Era um final de tarde de uma sexta-feira fria e agitada. Todos querendo ir para suas casas deitar em suas camas cheias de edredons, TVs com bons filmes e um gostoso chocolate quente. No café pouco movimento. Em dias como esse quase ninguém aparece. As mesas estavam vazias com garçons e garçonetes parados e o balcão sem fregueses jogando charme para a linda atendente. – BLÉM, BLÉM! – O sino tocou por causa da porta aberta. Um jovem, molhado pela forte chuva entra encharcado e pendura o casaco no suporte na parede. – BLÉM, BLÉM! – Mais alguém entre no local. Uma jovem, tão molhada como o rapaz que entrou, sacudia o corpo enquanto retirava o sobretudo. Eles sentaram-se em mesas opostas: ele se debruçou sobre seus papéis e ela ficou entretida com seus livros. Foram servidos e cada um pegou suas xícaras; eles iam bebendo e se entreolharam.

Em minutos uma torta e um salgado de queijo e presunto foram servidos nas mesas. Como num toque de mágica, a garçonete ligou o som e ampliou os sentidos dos fregueses: ele passava a mão no cabelo ainda molhado e ela ajeitava uma mexa do cabelo atrás da orelha. Ao som de Me and Mrs.Jones na voz de Billy Paul, um papel chega na mesa do rapaz com os dizeres “bonito cabelo e bonita música. Rsrsrs”. Com um sorriso tímido e aos melisma do cantor norte-americano, ele levantou e foi até a mesa daquela moça bonita. A doçura do ambiente ditava as regras daquele simplório flerte. A bossa-nova entre em cena; encostados num sofá o papo fluía; ele é escritor; ela é cineasta; Carta ao Tom na voz de Vinícius e Tom Jobim com Toquinho no violão aproximam o café, os povilhos e as mãos.

Uma seleção com as melhores de Piaf: um clichê que conquista qualquer casal. Para que trocar telefones? Um beijo de cinema francês resolveu tudo. Assim os aplausos daqueles que assistiam aquilo se estendeu. A magia de um café, a magia açucarada regada a música boa. Eles levantaram, deram as mãos e ao som de Minha Namorada num dueto entre Vinícius de Moraes e Odete Lara. - BLÉM, BLÉM! - A porta foi aberta. A chuva caia fraca; o rapaz abraçou e beijou a testa da moça; um aceno para platéia que respondeu com gritos e apluasos. - BLÉM, BLÉM – A porta se fecha.

Sanção Maia
04/07/11

quarta-feira, junho 22, 2011

Os "seus" não são eu

São 17h. Falta uma hora para terminar o trabalho e meu chefe me enche o saco bem nos meus quinze minutos de intervalo. Nem pra sair pra fumar e beber meu uísque ele me deixa em paz. “Você tem futuro aqui na loja. Se esforça mais que você consegue uma promoção! Pense nisso”. Ele sempre fala isso e eu balanço a cabeça; não sou de sorrir e detesto saber que pra sustentar meus vícios, preciso de dinheiro; pena que não dá mais pra viver de música. Dou uma tragada e me lembro que o Seu Roberval vai querer que eu atenda ele. Velho chato, babão e que acha que pode comer todos os caras que atendem ele. Acho que o fato d'eu ser o único a ter peito de xingá-lo e tentar bater nele excita o velho. Bom filho da puta.

O tempo passa devagar. Em pensar que essa merda me paga pouco pra aguentar tanta gente estúpida. Os clientes não chegam perto de mim, pois sentem o fedor de bebida e cigarro; já mandei Seu Roberval de volta pra boceta da mãe dele e ele saiu chiando; bebo um copo com água e recomeço a pensar no que fazer. Nesse exato momento, essa cliente bem interessante me pede o número 38 de um sapato de cor verde cana. Olho para o rosto e o corpo e não são de jogar fora. Vou no estoque e me olho. Coloco perfume, pego um IceKisses de menta e penteio o cabelo; hoje vou me dar bem nessa loja. São 17h46. Encontro o sapato, levo até ela e começo o xaveco. Ela ri das piadas que conto e das indiretas; ela usa aparelho e penso no boquete doloroso; ela levanta para testar o sapato de salto alto e olha pra trás; uns bons tapas nessa bunda pequena vão resolver nosso dilema.

São 18h10. O expediente acabou e peguei o telefone da Márcia. Nome comum, beleza pouca, mas cara de puta. Acendo o cigarro, dou um gole do uísque e vou andando. Em pensar que o dia pode acabar com sexo. Chego no ponto de ônibus e o mesmo cheiro de mijo fica impregnado no local. Todos esses perdedores, como eu, estão aqui para encher esse ônibus de merda, ficar sentido a catinga de cada um e roçar uns nos outros. Se desse iria a pé, mas não conseguiria sair com a Márcia. Acendo mais um cigarro observando um casal de moleques se pegando no poste próximo ao ponto: as velhas gagás reclamam que é falta de respeito o amasso que eles estão se dando, mas estão doidas pro seus maridos broxas pegarem elas desse jeito; o guri aperta a bunda da menina; dou uma risada pensando que fiz muito isso; a libertinagem dos garotos e garotas de hoje é engraçada: no final a menina vira lésbica e o guri um otário vive até os 40 anos com a mãe. Bebo mais um pouco do uísque e levanto a mão – afinal, o carro de bois chegou.

São 19h32. Levei pisadas e uma gorda me esmagou passando com seu rabo enorme para descer no seu ponto; ônibus lotado é uma parte do inferno. Desço, bebo o resto do meu uísque e acendo um cigarro. Vou ao orelhão, pego o cartão e ligo:

- Oi Márcia, tudo bem?
- Oi querido, quer me encontrar onde?
- Te pego em casa, vou só tomar um banho e nos encontramos.
- Tô te esperando tá. Um beijo.
- Outro, linda.

Essa eu como hoje. Passo pelo bar e compro umas cervas que depois devolvo para o Seu Valmiro. Grande Valmiro e suas pingas de primeira e seus conhaques falsificados. Com cigarro na boca falo rápido com a Latoya que grita “vê se não pega AIDS! Quero que você coma meu cú um dia”. Levanto o dedo médio para ela, que ri alto, e continuo andando até em casa. São 20H01 e já estou quase na casa da Márcia. Tomo banho rápido, pois hoje tô com muita vontade de trepar com alguém. Acendo o cigarro; ainda bem que ela viu minha carteira no bolso da camisa lá na loja e já sabe que fumo. Número 379. Bato na porta e ela abre. A baixinha está bonita e para minha surpresa ela me agarra. Sempre agradeço pela emancipação feminina e o fato das mulheres terem mais atitude. A língua dela vai passando pela minha boca e eu vou pegando em todo o corpo dela; começamos os amassos na sala e não paramos mais. São 23h03. Depois de muita foda, estamos bebendo. A Márcia gosta de metal e detesta pagode; mulher interessante, gosta de coisas um pouco bizarras, mas dá pra conviver. Mais um cigarro e uma boa vodca ao som de um instrumental de jazz muito bom. Enquanto ela vai ao banheiro, vou para janela nú e penso o quanto eu poderia ganhar sendo promovido no trabalho. Talvez comprar um carro ou um apartamento; conseguir conquistar o que sonhei há muito tempo, talvez... ARGH! A vodca desceu errado. Detesto ter pensamentos “Criança Esperança” em que a vontade de mudar tem a cara do Didi e acontece todo ano; recebo um beijo nas costas. A Márcia quer mais e deixou um presente para depois: algumas gramas de coca.

São 00h57. Transei, cheirei e agora tô curtindo um onda louca. Ela me passou um violão e tô fazendo uma jam session para ela; quando cheiro sempre fico agitado e com vários pensamentos loucos na cabeça. Toco e choro. Paro de tocar e abraço aquela mulher na minha frente falando merda o tempo todo. Penso na minha mãe, penso na minha infância, penso na minha adolescência, penso naque... Lágrimas. Não vou trabalhar amanhã. Eu uso pó e no outro dia não consigo levantar. Meu pau não sobe mais e a Márcia foi deitar. São 02h20 e não preguei os olhos. Minha cabeça e meu corpo estão um caco e não aguento mais chorar. Talvez seja hora de mudar as coisas... Blah! Talvez seja hora deu calar o caralho da minha boca e beber mais. Lágrimas, cocaína, vodca e violão... Amanhã será mais um dia; amanhã será mais um amanhã.


Sanção Maia
22/06/11

Pra saber mais sobre esse personagem leia os texto - Parte 1/ Parte 2/ Parte 3Parte 4 





segunda-feira, junho 06, 2011

Relações

- Vai pegar a bola seu viado!

- Vai você filho da puta!

- É o que? Quer levar pau é?

- Tô dizendo que é viado? Gosta tanto de pau que quer dividir comigo. Sua bicha-puta, vá se fudê!

São 19h. As crianças de hoje em dia mal chegam aos dez anos e já pensam que são machões. A briga é feia de ver. Eles mal sabem dar um chute no saco ou um gancho no queixo. O que xingou primeiro perdeu o equilíbrio e tá no chão levando uns bons sopapos. Cuspo no chão e continuo fumando. Esse caminho pra minha casa é sempre assim: emoções patéticas sempre me rodeiam. Os gritos de “toma seu viado!” ou “se fudeu!” vão se afastando quando viro a esquina. O perfume da rua é sempre o mesmo: mijo, bosta, carniça de bozó e lixo. Passo por um beco e lembro que comi uma das minhas vizinhas ali. A puta louca achou que namoraria com ela, mas se ferrou – disse não e ela me perseguiu durante meses; ela ainda me espreita pela janela, mas depois que mandei ela pra “desgraça que a pariu” ela se afastou de mim. Isso é bom: não ter idiotas ao seu lado sempre facilita a vida.

Mais alguns metros e ascendo outro cigarro. ARGH! PORRA! CARALHO! Bate a merda do pé num caralho de uma pedra! Ainda bem que tô perto de casa. São 19h27. Abro a porta do prédio e subo mancando. Fico olhando as rachaduras e sentindo o fedor de mofo das paredes do edifício. Um dia essa merda cai. Chego no 204 e abro a porta; aquela bunda grande e branca está bem na minha frente. Filó, minha querida diarista, veio fazer faxina hoje. Nossa relação profissional é ótima: eu pago, ela vem; ela fica, eu a fodo; ela nunca dorme e vai feliz pra casa por ter alguém que a foda. São 19h32. Depois de apertar o rabo da Filó e ela ri, vou dar uma cagada. Pensar que trepo com essa quase sessentona com quase 100kg sempre me dá diarreia. Tolete, tragada, tolete, tragada; pego o papel e limpo; descarga, tragada, lavar a mão. Respiro o odor do sarapatel de meio-dia e abro a porta. Tá na hora de dar um trepada.

Os minutos passam. Nesse exato momento, como a Filó de quatro. Ela grita sempre:

- Ai,ai, ai, ai! O Sinhô é gostoso! Ui! Tá do jeito que eu gosto! Me tora, me tora!

Ela sempre faz zoada; depois de um tempo a Dona Gemima bate na minha porta pra reclamar que o prédio não é bordel. Viúva que não consegue fazer mais nada e vem me encher. São 20h13. Estou sentado numa cadeira na sala e a Filó se ajeita pra ir. Ela sempre me olha com felicidade; acho que esse é o meu destino: comer pessoas não fodíveis para fazê-las felizes. Ela sai com uma bermuda apertada e uma blusa branca com propaganda de político dizendo que deixou a comida na geladeira. Santa Filó dos Bons Buracos. Acendo um cigarro e o telefone toca.

- Filho! Você bem que poderia me ligar! Como você tá? A mãe tá com saudade... - Minha mãe é sempre assim.

- Tô do jeito que a senhora me deixou: cabelos penteados, indo à igreja todos os dias. Parei de fumar e beber. Não posso esquecer que agora sou cardiologista.

- Tem que ser irônico com sua mãe? Bebendo e fazendo besteira... o que tem de novo? O como vão as meninas?

- Latoya e Tiffany estão ótimas, mãe. Nada demais. A Filó mandou um beijo. Continuo sem namorada, indo no mesmo bar. E a senhora?

- Seu p...

- Pode não falar da família?

- É SUA FAMÍLIA!!!!

- Mãe... - O papo rola assim até ela cansar e bater na minha cara. Toda semana discutimos, toda semana ela me liga.

São 21h05. Abro um cerveja e um pacote de Mendorato. Ela nunca desistiu de mim. Tenho orgulho da minha mãe. Guerreira e suportou tudo com o sorriso e muita fibra; me aguentar é um trabalho que poucos podem realizar. Vou na janela; uns casais se amassando num canto mal iluminado e uns bebuns que andam e cantam o pagode da vez; um cachorro cheira um bozó recém colocado; as cinzas do meu cigarro caem naquela imundice que chamam de rua. Mais uma noite sem encostar na Sandy, pois ela anda dormindo bastante. Ligo a TV. Coloco um banquinho na minha frente e boto o pé que ainda doi. São 22h20.

Levanto e mexo na antena. Uma novela esquisita passa. Olho tudo aquilo e acho um saco. São 22h45. Nada que preste na TV. Mais um cigarro e mais uma breja. Penso em ligar pra algumas das GP's aqui da rua; elas sempre cobram barato e ficam satisfeitas; sempre pago antes e sempre deixo elas fazerem o que quiserem depois da foda. Espero que tragam bebida ou pó ou erva. Na minha casa só não aceito crack. Pego o telefone e ligo pra Diane. Ela vem em 10min e disse que vai trazer algo.

São 00h03. Pé doendo, sexo, drogas e rock'n roll. Diane, como sempre com seu corpo bem feito e cara assustadora. Ela adora fumar maconha e pular no meu pau. Penso em tudo: nos seios, na xoxota, na cara feia, na tristeza de repetir os mesmo erros, no abraço da fumaça de cigarro... 00h40. Diane vira a cara e dorme. Eu levanto e ainda manco do pé machucado. Ascendo um cigarro. A TV está na estática. Aquele som me lembra infância, me lembra o início da perda de inocência. Mãe, não vem aqui. Não consigo xingá-la e nem mandá-la embora. Meu peito dói, minhas lágrimas descem. Maconha sempre me quebra; me encosto num canto da parede e abraço minhas pernas. Escuto o Willian Waack desejar boa noite. Escuto, baixo a cabeça, me aperto. O sono dos covardes vai começar; me preparo e dou um sorriso sarcástico; hoje com certeza eu vejo o Diabo.

Sanção Maia
22/05 (até ter tempo para terminar o texto) 06/06.

Pra saber mais sobre esse personagem leia os texto - Parte 1/ Parte 2/ Parte 3 





segunda-feira, maio 02, 2011

Noite cheia, mente lotada

Sempre gostei de pessoas engraçadas. Quer dizer, sempre gostei de pessoas que não fazem piadas iguais as do Ary Toledo ou do Tom Cavalcante. Detesto esse humor “tô na tv e é engraçado”. Humor pra mim e acordar de manhã com uma baita ressaca e lembrar que você perdeu um dedo numa aposta idiota - não que isso tenha acontecido comigo – ou lembrar que você adotou um criança do Kurdequistão e gastou todas as suas economias nisso. E não, isso também não aconteceu comigo. Isso é o que se pensa quando se fica em casa com pouca breja, pouco cigarro. Meu relógio quebrou e não tenho celular. Acho que deve ser 23h. Há comida em casa, mas não sinto fome: na verdade mesmo depois da Filó ter saído daqui, depois de umas boas horas de foda, só sinto vontade rir um pouco.

Pego meu telefone e disco. Ocupado. Merda Latoya, pra que caralho você tem um celular? Vou ligar de novo. Ocupado. Deve ser a porra de algum cliente. Travestis tem uma vida movimentada. A Tiffany também não atende. Ascendo um cigarro e ligo o som. Um pouco de música não faz mal a ninguém. Todos devem se perguntar: por que merda essa cara é amigo de dois travecos fudidos? Primeiro respondo um sonoro e alto “vá tomar no cú”; segundo, posso ser um merda, mas gosto de sinceridade e isso Latoya e Tiffany são ao extremo. Elas não atendem. Será que devo ligar para minha mãe? Ela é engraçada quando pergunta se tô bem e quando vou lá visitá-la; ela é engraçada quando reclama que estou magro e que vou morrer de câncer; ela é engraçada quando ainda vê esperança em mim. Acho que a minha mãe é a única pessoa que amo. Talvez por ela demonstrar o amor do seu jeito e não um sentimento forjado pela criação que teve quando criança. Minha mãe é muito foda. Não ligo para minha mãe. Ligo para Latoya.

- Porra você gruda mais do que pica de cachorro em foda!

- Panaca, tem cerva aqui em casa. Traz cigarro e mais cerveja. Cadê a Tiffany?

- Tá enrabando um soldadinho de merda. Vou mandar uma mensagem pra ela ir pra tua casa. Chego aí em 30 min. Você vai comer meu cú hoje?

- Sua bunda é quadrada, gorda demais e fedorenta. Pra que merda vou querer teu cú?

- Um dia você ainda vai me comer, tá? Fui!

De fato me divirto com elas. Elas assumem que não querem me comer, mas só querem ser comidas por mim. Acho que o fato de ser um largado que tá pouco se fudendo para o mundo as excita. Na verdade, de tanto comer rabo de brigadeiros e generais elas querem alguém pra comer o delas. Não serei eu, pois nada contra quem gosta de homens, mas prefiro xoxotas. Hora de levantar e pegar a Sandy. A campainha tocou. São elas.

São 01h30 e começa a barulheira. Tiffany com seu habitual shortinho entrando na bunda magra e Latoya com um vestido tão curto que dava pra ver toda a popa do rabo gordo com a calcinha mínima a mostra – NOSSO BOFEEE! TEM QUE APERTAR AS BUNDINHAS! AI! – dou risada e aperto uma bunda ossuda e outra bem gorda. Começamos a beber e a conversar. Me engasgo com a última história sobre um delegado que pediu pra ser comido e comer merda de uma das duas. Pensava que era tosco, mas sempre o certinhos são os mais bizarros. Mais um cigarro. Não me incomodo de vê-las cheirando pó. Já fizeram carreiras e mais carreiras na velha mesa do vovô. Bebidas, drogas e dois travestis na minha sala. É quase um nome de livro, mas não teria a graciosidade desse exato momento.

Acho que por isso os parentes não me procuram ou me ligam: medo da escória – assim chamam os pobres - que eu ando. Prefiro andar com eles e suas verdades do que com vocês, malditas pessoas com laços de sangue que acham que tem propriedade para falar alguma coisa de mim. Se fazem de santos, mas são piores que o diabo. Hipocrisia é nojenta e minha família se embebeda dessa merda.

São 03h40. Tô tão bêbado que meus pensamentos tão muito loucos. Minha casa fede a cigarro, maconha e cerveja; no chão muita cocaína caída; na minha cama vejo a Tiffany receber um boquete da Latoya. Começo a tocar a Sandy. 04h00. Meus vizinhos não mexem comigo. Toco um acid rock. Tô com cerva e erva na mente. Ha! Até rimou. As notas soam tristes e sofridas. As lembranças sempre vem quando fico chapado. Argh! Mordi minha língua. Isso não impede o meu subconsciente metralhar minha cabeça com lembranças de uma única vez que fui feliz. As lágrimas caem e tô pouco me lixando pra essa merda. Mais um gole de cerva. Olho pro meu quarto e as duas estão morgadas. Guardo a Sandy, pego mais um cigarro e vou para janela.

São 04h10 e dou mais um baforada; de tão tonto não vejo direito quem tá mexendo no lixo. Sinto um abraço e um beijo; nada de Latoya ou Tiffany; são só a minha memória e o meu sofrimento que apareceram e tomaram forma física. Sento na minha poltrona, junto meus joelhos e tento dormir. Recebo um cafuné do sofrer e um beijo da memória; eles partem para trabalhar mais um vez nos meus sonhos.


Sanção Maia

17/03 (volta da inspiração) até 02/05.

Pra saber mais sobre esse personagem leia os texto - Parte 1/ Parte 2 






segunda-feira, março 21, 2011

Nos tons do fogo

Farfalhar de chamas,
intensidade em cor rubra.
Quente, fervente, aconchegante
ao tocar a pele errante,
delírios platônicos culminam em queimaduras do gostar


Graus em escala crescente
ascendem em mim, inerte e descrente
um vermelho alaranjado
na tez de um crepúsculo feliz


Vem! Fogueira alta e crepitante
esquentar esse frio cadarífero
nas chamas com lascívia repletas de amor
Vem! Escarlate sentimento
se espalhar junto ao vento
e fazer de momentos ímpares, incêndios cupídicos


Rubra flama,
acalenta.
Rubra flama,
esquenta.
Rubra flama,
escarlate apaixonar.


Sanção Maia
16/03 (volta da  inspiração) até 21/03.


Dedicada a Lila Cruz ou melhor, "Minha Ruiva". 

domingo, março 06, 2011

Domingos (2ª versão)

Já são 5h da manhã quando o celular toca. Buiú liga para Marquinhos, que liga para Allison, que liga para Fernando, que liga para Baleinha, que liga para Negão, que continua as ligações. Essa é a rotina de todos os domingos antes das 6h: todos se comunicam para avisar o “baba” na praia da Sereia, em Itapoã. Aos poucos, os 14 integrantes do grupo vão chegando e começam a contar as novidades – Depois do baba, todo mundo na casa do Mazinho pra tomar uma cerveja e comer o feijão de Dona Maria – avisa Buiú, minutos antes de começar o jogo.

Eles escolhem os capitães (os melhores jogadores da “galera”) e após um nada amistoso “par – ou – impar”, decidem quais os atletas de cada equipe. Os goleiros delimitam o espaço do gol e da quadra; as traves são montadas com pedaços de madeira e linhas demarcadas pelos pés de alguns jogadores. Todos pegam um colete (um verde e outro vermelho) e se preparam para o início da partida.

Os times são divididos assim: verde (João, Quero – Quero, Juvena, Negão, Baleinha, Mazinho e Mequetrefe) e vermelho (Allison, Lipe, Guga, Fernado, Buiú, Vandinho e Chulapa). Eles se separam e escolhem quem vai ficar com a bola no cara – ou – coroa. Algumas pessoas que passam pelo local observam o início do jogo; as ondas fazem papel da torcida e dos gandulas.

O jogo começa tenso. Quem passa pelo local fecha o olho ao ver a entrada forte de Buiú em Mequetrefe. Os jogadores se encaram e começam a discutir – Porra, Buiú, cê é otáro é? Tá se  fazendo de maluco? – grita algum jogador em meio a confusão.  Após o início de briga, o jogo recomeça com o time verde indo para cima; Negão passa por dois e toca para Mazinho na esquerda; esse trava a bola com Guga, mas consegue recupera – lá; ele avança para o campo adversário pelo lado esquerdo do campo e inverte a bola para Juvena no lado direito; ele olha a área e cruza: Baleinha marcado por Fernando e Vandinho consegue cabecear a bola que bate na trave e vai para o lado esquerdo; o goleiro do time vermelho comeu areia e quase toma um frango. O jogo foi se estende, os gols aparecendo...

Já são 9h30 da manhã e o placar é de 10 x 09 para o time vermelho. Em poucos minutos, Baleinha chuta a bola, que bate num montinho de areia e engana João. Gol, mas não há tempo para comemorar. Quem perder a partida pagará a segunda grade de cerveja que vai  para casa de Mazinho e isso ninguém quer. O tempo passa devagar e o calor aumenta; todos estão cansados, mas só saem dali quando alguém fizer o último gol. Então, num golpe de sorte, Quero – Quero rouba a  bola de Buiú e avança. O time vermelho está cansado e Quero - Quero parte em direção ao gol de João; ele toca para Mazinho, que de primeira, passa para Mequetrefe que domina e dá uma “caneta” em Fernando e dribla Vandinho e vai direto para a pequena área; João saí desesperado, mas antes dele chegar a Mequetrefe, toca para Baleinha - o artilheiro do jogo - dominar sozinho e dar um toque na bola e marcar o gol.

Gritos de “porra”, “caralho”, “Uh é matador! Baleinha matador” ecoam pela fofa areia e mar  tranquilo da praia. Jogo termina em 11 x 10 para o time verde, com destaque para Mequetrefe e Baleinha, uma entrosada dupla de ataque. Ali eles terminam e discutem o jogo, (novamente alterados) e vão para o ponto de ônibus pegar o transporte para a casa de Mazinho – Desculpa, mas eu sou foda, na moral – gaba –se Baleinha com sua protuberante barriga e seu sorriso fácil.

E assim mais um domingo de “baba” termina. Dentro do ônibus Buiú pergunta para os  companheiros: “Vai ter domingo que vem?”; e a única a ação do grupo foi estapeá – lo e afirmar: “Oh vacilão, claro né? Oh cara burro da porra! Viadão!”


Sanção Maia
01/02/11  modificado em 06/02/11
Os textos com 1ª versões serão melhorados durante o ano até serem definitivos.