domingo, outubro 03, 2010

Um dia qualquer

São 6h da manhã. O despertador começa, com sua música cruel e insuportável, o processo de acordar. Meus olhos, cheios de remela e sono, abrem-se com o feixe de luz de sol que passa pela janela. Levanto tonto. O sono e as cervejas tomadas no dia anterior ainda fazem efeito no meu equilíbrio corporal. Não ando em linha reta, calço a sandália errada, ainda estou cheirando a cigarro e a cerveja e não consigo achar minha toalha. Nada como uma ressaca, após mais uma noite com uma mulher qualquer, num local bizarro, com uma camisinha de posto de saúde e marcas de arranhões e chupões por todo o corpo – Caralho, meu pau tá roxo? – E assim, percebo que a puta era uma louca e deixou meu cacete cheio de marcas.

Todos devem estar se perguntando o porquê de um palavreado tão chulo e um sentimento de raiva e tristeza constante. Quando se acorda pela quinta vez na semana bêbado, marcado por uma vadia e fedendo a bebida, você acaba se tornando amargo, sozinho. É assim que vivo todos os dias. Trabalho, bebo, fodo, fumo e no final de tudo, só me resta solidão. Sempre foi assim. Nunca quis uma vida normal. Será que é difícil d’eu entender que estudar para passar num concurso público ou fazer a faculdade da moda é melhor do que estar em um emprego patético ou num beco fedido trepando? Será que é isso que minha mãe quis? Será que é isso que eu quero?

O comum me cansa. Agora, lavando alguma xícara que possa ser usada para colocar meu café requentado, eu vejo que isso é babaquice. Comendo esse pão duro, que pode quebrar meu dente careado, vejo que por um momento, a vida poderia ser simples como andar com as pernas. Sem sexo desregrado, sem bebida exagerada. Seria só chegar em casa, beijar minha esposa, alisar meu cachorro, assistir ao jornal das 20h. Olho o relógio e já são 6h30. Na minha cama, ao lado da minha querida guitarra Sandy, está ali aquela que possuí noite passada. Sempre acabo trazendo-as ao meu apartamento e fodendo as putas até esfolá-las. No final, se apaixonam; como por mais umas semanas ou meses e sumo. Assim sou eu: uma solidão tarada, uma solidão embriagada, uma solidão cansativa.

Esse cigarro que acendi é providencial. A louca tá acordando e me chamando pra deitar com ela. Vaca, deixou meu pau com marcas roxas. Ela balbucia alguma merda; tô pouco me lixando. Prefiro meu amigo cigarro, baforador, inimigo do pulmão, meu companheiro-algoz; prefiro uma boa cerva ou um bom uísque; prefiro uma mulher fácil a uma mulher que me ame. A solidão é meu prato de almoço, meu lanche, meu jantar... 7h. Minha casa está um caos. A idiota acorda e vai vomitar. Bem, ela teve uma noite comigo e não esperava beber tanto. Precisava de uma vida com anjos e não cheia de demônios. Acho que devia ligar para mamãe, mas ela só vai falar que eu tenho que sair dessa vida e procurar algo melhor. Mães, sempre com razão; filhos, sempre manés por não escutá-las.

Já são 8h30, a louca foi embora, tomei um banho e vou sair. Hoje é meu dia de folga. O que fazer? Ligar pra uma puta? Ligar para um pinguço? Comprar mais cigarros? Nunca vou me acostumar com vida normal. Talvez tenha que admitir, não gosto do simples ou do comum. Não posso viver como alguém que acha que compras na Daslu valem alguma merda. Sou assim e assim não morrerei, mas comum nunca, jamais serei.

A porta bate nas minhas costas. Andando, me pergunto: Comum...? Isso vai ser uma longa história.

Sanção Maia
03/10/2010

- Texto inspirado em personagens como Hank Moody, Quincas Berro D'Água, Buckovsky e muitos outros ídolos de esbórnia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cheguei a ter uma fase Hank Moody em minha vida. Mas você esqueceu de citar Buckovsky... Senti muito dele em seu desabafo.

Sua vida não pode ser tachada de boa ou de ruim por ninguem. Ela só é boa se te faz feliz e só é ruim se você não se sentir bem com ela. Daí é hora de mudar. E mudar é uma capacidade inerente a todo ser humano. Mude quando quiser. Ou quando o medico te der seis meses de vida.


Grande Abraço. Adorei o texto!

Ana Colmenero disse...

Não gosto dos seres humanos em sua humanidade, quando definidos como animais racionais. O irracional é tentador, com um toque de amor então, um deleite. Pseudo intelectuais me irritam quando tentam falar de si e confundem hedonismo, egoismo, instinto. Mas por alguma razão quase explicavel me senti ressaqueada, com gosto amargo de bebida e cheiro de cigarro ao ler o texto... Seria uma crônica? Narrativa? Duvidas sanadas com a certeza do teor auto-biográfico. Solidão, eis o momento necessário e temido, não temor = medo, mas um frio no estomago e uma sensação de precisar de abraço e banho. A esbórnia, hoje é um luxo na minha vida, mas não me causa admiração, já que é inevitavel quando bebemos, fumamos e fudemos num beco fedorento qualquer e essa pesssoa no dia seguinte ainda lhe causa admiração ao falar de esposa, cachorro, casa e amor...

Parabéns pela visão impecavel e fidedigna do homem tal como ele é.

Beijos =*

Sanção Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.