segunda-feira, maio 02, 2011

Noite cheia, mente lotada

Sempre gostei de pessoas engraçadas. Quer dizer, sempre gostei de pessoas que não fazem piadas iguais as do Ary Toledo ou do Tom Cavalcante. Detesto esse humor “tô na tv e é engraçado”. Humor pra mim e acordar de manhã com uma baita ressaca e lembrar que você perdeu um dedo numa aposta idiota - não que isso tenha acontecido comigo – ou lembrar que você adotou um criança do Kurdequistão e gastou todas as suas economias nisso. E não, isso também não aconteceu comigo. Isso é o que se pensa quando se fica em casa com pouca breja, pouco cigarro. Meu relógio quebrou e não tenho celular. Acho que deve ser 23h. Há comida em casa, mas não sinto fome: na verdade mesmo depois da Filó ter saído daqui, depois de umas boas horas de foda, só sinto vontade rir um pouco.

Pego meu telefone e disco. Ocupado. Merda Latoya, pra que caralho você tem um celular? Vou ligar de novo. Ocupado. Deve ser a porra de algum cliente. Travestis tem uma vida movimentada. A Tiffany também não atende. Ascendo um cigarro e ligo o som. Um pouco de música não faz mal a ninguém. Todos devem se perguntar: por que merda essa cara é amigo de dois travecos fudidos? Primeiro respondo um sonoro e alto “vá tomar no cú”; segundo, posso ser um merda, mas gosto de sinceridade e isso Latoya e Tiffany são ao extremo. Elas não atendem. Será que devo ligar para minha mãe? Ela é engraçada quando pergunta se tô bem e quando vou lá visitá-la; ela é engraçada quando reclama que estou magro e que vou morrer de câncer; ela é engraçada quando ainda vê esperança em mim. Acho que a minha mãe é a única pessoa que amo. Talvez por ela demonstrar o amor do seu jeito e não um sentimento forjado pela criação que teve quando criança. Minha mãe é muito foda. Não ligo para minha mãe. Ligo para Latoya.

- Porra você gruda mais do que pica de cachorro em foda!

- Panaca, tem cerva aqui em casa. Traz cigarro e mais cerveja. Cadê a Tiffany?

- Tá enrabando um soldadinho de merda. Vou mandar uma mensagem pra ela ir pra tua casa. Chego aí em 30 min. Você vai comer meu cú hoje?

- Sua bunda é quadrada, gorda demais e fedorenta. Pra que merda vou querer teu cú?

- Um dia você ainda vai me comer, tá? Fui!

De fato me divirto com elas. Elas assumem que não querem me comer, mas só querem ser comidas por mim. Acho que o fato de ser um largado que tá pouco se fudendo para o mundo as excita. Na verdade, de tanto comer rabo de brigadeiros e generais elas querem alguém pra comer o delas. Não serei eu, pois nada contra quem gosta de homens, mas prefiro xoxotas. Hora de levantar e pegar a Sandy. A campainha tocou. São elas.

São 01h30 e começa a barulheira. Tiffany com seu habitual shortinho entrando na bunda magra e Latoya com um vestido tão curto que dava pra ver toda a popa do rabo gordo com a calcinha mínima a mostra – NOSSO BOFEEE! TEM QUE APERTAR AS BUNDINHAS! AI! – dou risada e aperto uma bunda ossuda e outra bem gorda. Começamos a beber e a conversar. Me engasgo com a última história sobre um delegado que pediu pra ser comido e comer merda de uma das duas. Pensava que era tosco, mas sempre o certinhos são os mais bizarros. Mais um cigarro. Não me incomodo de vê-las cheirando pó. Já fizeram carreiras e mais carreiras na velha mesa do vovô. Bebidas, drogas e dois travestis na minha sala. É quase um nome de livro, mas não teria a graciosidade desse exato momento.

Acho que por isso os parentes não me procuram ou me ligam: medo da escória – assim chamam os pobres - que eu ando. Prefiro andar com eles e suas verdades do que com vocês, malditas pessoas com laços de sangue que acham que tem propriedade para falar alguma coisa de mim. Se fazem de santos, mas são piores que o diabo. Hipocrisia é nojenta e minha família se embebeda dessa merda.

São 03h40. Tô tão bêbado que meus pensamentos tão muito loucos. Minha casa fede a cigarro, maconha e cerveja; no chão muita cocaína caída; na minha cama vejo a Tiffany receber um boquete da Latoya. Começo a tocar a Sandy. 04h00. Meus vizinhos não mexem comigo. Toco um acid rock. Tô com cerva e erva na mente. Ha! Até rimou. As notas soam tristes e sofridas. As lembranças sempre vem quando fico chapado. Argh! Mordi minha língua. Isso não impede o meu subconsciente metralhar minha cabeça com lembranças de uma única vez que fui feliz. As lágrimas caem e tô pouco me lixando pra essa merda. Mais um gole de cerva. Olho pro meu quarto e as duas estão morgadas. Guardo a Sandy, pego mais um cigarro e vou para janela.

São 04h10 e dou mais um baforada; de tão tonto não vejo direito quem tá mexendo no lixo. Sinto um abraço e um beijo; nada de Latoya ou Tiffany; são só a minha memória e o meu sofrimento que apareceram e tomaram forma física. Sento na minha poltrona, junto meus joelhos e tento dormir. Recebo um cafuné do sofrer e um beijo da memória; eles partem para trabalhar mais um vez nos meus sonhos.


Sanção Maia

17/03 (volta da inspiração) até 02/05.

Pra saber mais sobre esse personagem leia os texto - Parte 1/ Parte 2 






2 comentários:

Nat disse...

adorei! A-D-O-R-EI!

=)

beijo!

Unknown disse...

Você está ficando bom nisso,manolo. Narrativa tem de ser assim mesmo: carregada de realidade independente do teor. Vou ali beber e ficar alto para ver se consigo cuspir qualquer coisa também. Abraço.