sexta-feira, dezembro 23, 2011

Um Natal de quem sabe dar uma festa

I
Se há uma festa de natal que é esperada, é a da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt. No bairro, os vizinhos já se acostumaram - e invejam até hoje - os festejos realizados por Seu Phrederico e Dona Amália. A casa toma todo um quarteirão: um terreno enorme onde moram os patriarcas da família, mais a família do caseiro, jardineiro, empregada - que é casada com o motorista - e ainda tem uma área reservada para criação de animais - aves, cães e o pônei de estimação da família.

A decoração é em proporções enormes: árvores enfeitadas com luzes e arranjos; o chão é traçado com linhas brancas, vermelhas e verdes assim como os portões de entrada; a casa é pintada de acordo com a cor da casa do Papai Noel; na varanda da casa há dois presépios - em tamanho real - do nascimento do menino Jesus e um do Trenó do Papai Noel  (com as renas e tudo!); os empregados se vestem durante a festa com as roupas dos duendes operários do São Nicolau.

A família é grande: são sete filhos - três homens e três mulheres e um garotinho de três anos adotado pelos patriarcas em 2009, treze netos e dois bisnetos. Na casa principal, há quinze quartos. Dentro da residência, uma grande árvore de natal está no meio da sala de estar rodeada de presentes. Nos corrimões da escada, nas grades de proteção do andar de cima, nos lustres... Tudo lembra o período o Natal. O caseiro e o jardineiro já mataram o peru e o pato; os cozinheiros preparam a refeição seleta para paladares exigentes; as bebidas já foram armazenadas nas temperaturas ideias. Tudo é preparado com o máximo cuidado.

É como dizem os vizinhos que ficam de fora da festa: Os Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt sabem dar uma festa.


II
Seu Phrederico e Dona Amália preparam-se para receber os familiares e agregados no hall de entrada. Em frente às escadas da entrada, os empregados esperam os convidados para poder estacionar seus carros e levá-los até a sala de festas. Os primeiros parentes chegam e vão procurar os anfitriões. Uma equipe de câmeras e fotógrafos - uma produtora foi contratada para gravar vídeos e fotografar os melhores momentos da festa – param para registrar todos que entram.

As horas passam e casa da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt já está cheia. Os vinhos, whiskys, pró-secos, sodas italianas são servidos juntos com os aperitivos. Vovô Phrederico conta histórias para os mais novos sobre suas aventuras de juventude - um emaranhado de mentiras ou histórias exageradas; os tios mais velhos, Beta e Jerônimo discursam sobre suas carreiras de diplomatas; Philipe - um dos netos preferidos - toca o piano alemão (fabricado em 1891 e que chegou na casa há mais de 20 anos )  perto da árvore; Ezequiel - a criança adotada - tira a roupa e sai correndo pela sala; Zeca e Sophie vão para biblioteca; alguns netos, o tio Haroldo e a tia Marie (mãe de Sophie) sobem as escadas. "A festa sempre se dispersa antes da ceia", pensa a matriarca enquanto grita com um dos duendes sobre a demora em servir os canapés.

Faltam trinta minutos para a meia noite. Os familiares se espalham pela casa, cada um com seus interesses. O Natal da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt sempre tem suas surpresas,  mas  nesse ano, as coisas passaram a desandar.


III
Os minutos passam e em um dos quinze quartos da casa, risos. Do outro lado da porta, Lucca, Angela, Diogo e Valerie estão chapados com seus tios Haroldo e Marie. O baseado vai, o baseado vem; alguns ácidos para entrar numa onda ainda maior. Todos riem e se tocam: Tio Haroldo pega na bunda do Diogo que pega nos peitos da tia Marie que pega no pênis do Lucca que beija a Angela que inicia uma masturbação na Valerie. Em poucos minutos, a cama de casal e as poltronas do quarto estão sendo usadas como instrumentos de prazer: Tio Haroldo enraba Lucca que faz sexo oral em Valerie; nas poltronas – que foram colocadas de frente uma para outra - Diogo está sentado com a Tia Marie em cima do pênis dele enquanto Angela se masturba com uma mão e faz um “fio terra” no garoto. Nada de incomum para eles: incesto sempre foi um dos hobbies destes tios – afinal eles eram curiosos em saber o que era cabaço e perderam a virgindade um com outro.

Já na biblioteca – que fica ao lado de um lavabo no lado oeste da casa – o som da festa faz os convidados não escutarem os livros que caem enquanto a sessão sado masoquista de Sophie e Zeca é intensa. Em cima da grande mesa, o rapaz com a bunda vermelha e virada para cima e grita: “Mais! E não esquece de meter no meu cu”. Sophie está sem o vestido longo - há algum tempo - e folgado e mostra suas típicas roupas de colegial masoquista (uma saia e uma blusa curta feitas de látex brilhante preto). Uma estante ficou inclinada na parede, pois a garota havia amarrado há alguns minutos atrás o Zeca de forma errada e acabaram por derrubar o guarda-livros. “Eu sempre quis te bater com Dom Casmurro só por que você vivia me chamando de Capiputa!”, grita e bate forte - com um exemplar de 1920, com capa dura do livro de Machado de Assis - Shopie na bunda do Diogo, em lágrimas de felicidade.

Faltam quinze minutos para meia para o dia do nascimento de Cristo e Seu Phrederico sumiu; Dona Amália está há quase cinquenta minutos na cozinha humilhando os empregados e já rasgou um gorro de alguns duendes; na festa, Tia Vilma está bêbada e conta para os sobrinhos sobre seus amantes gregos, italianos, japoneses - que ela detestou -, africanos,...; Tio Válter e Tio Humberto (marido da Tia Vilma) dormem na escada da entrada e ambos estão sujos com seus próprios vômitos. A festa está para chegar ao seu clímax e o Papai Noel - um ator aposentado que trabalha de zelador em um pequeno teatro - fuma um cigarro e bebe uma dose do "despertador" para trabalhar.

Um som estridente abalada os eventos da noite e aumenta cada vez mais.


IV
Os animais se soltaram e passam pela frente da casa a dez minutos do Natal. Os Tios Válter e Humberto são acordados por bicadas de patos e mordidas cães; todas as pessoas dentro da casa correm para se proteger: cinco netos e Tia Vilma (mãe do Zeca) entraram na biblioteca e tracam a porta; alguns sobrinhos vão para o andar de cima e correm para o quarto mais afastado juntos com a Tia Beta; a Vovó Amália sai pelos fundos da casa e chora por toda aquela tragédia. Ela, alguns empregados e Tio Jerônimo saem correndo pelo quintal. - Meu Deus! Que pavoroso é isso seu filho da puta! - grita e joga uma pedra a senhora Amália Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt e desmaia.  Seu filho e os duendes, não acreditam no que viam: Phrederico Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt, estava nu e embaixo do pônei. - Vem cá seu potro gostoso! - Gritava o velho louco e patriarca da respeitável família Oliveiras Santiago Albuquerque Bitencourt - exemplo para toda sociedade local – que masturbava o pônei de estimação.

Cinco minutos para meia noite e todos, agora, ouviam gritos e ruídos de pancadas. Os animais foram postos em seus lugares e cada membro da família senta e espera. O primeiro a chegar e a quase cair do sofá foi o tio Valter; da biblioteca vieram Tia Vilma, sua trupe e Zeca e Sophie - sensualmente vestida com latéx; dos andares de cima Ezequiel está assustado junto com todos os primos e uma Tia Beta chorosa; com eles Tia Marie, Tio Haroldo, Lucca, Angela, Diogo e Valerie riem dos vídeos feitos no quarto; Vovó Amália entra carregada por um tio Jerônimo que não consegue falar; Vovó Phrederico entra pelado, dançando - algo similar ao arrocha - e com um garrafa de whisky na mão.

Philipe entra na sala só de cueca e beija um duende - apenas com o gorro - na boca e fala – “União Estável. Nos casamos ontem e esse era o início da nossa Lua de Mel”. Os fotógrafos, câmeras e a banda param atônitos com a confusão - um guitarrista perdeu sua guitarra e um câmera foi mordido por um dos cães da casa - que não sabem o que fazer. Apenas dois minutos para o Natal e Vovô se prepara e pede para o baterista rufar os tambores. Um minuto e a banda volta a tocar Dingon Bell; cinquenta segundos e Vovó acorda e desmaia ao ver seu marido ainda nu; trinta segundos e um início de briga entre os irmãos é apartado; dez segundos e Ezequiel não fala mais nada; três, dois, um... Natal!

Todos se abraçam e se beijam. Vovô diz que ama vovó que discursa que o importante é a família e que vai ajeitar tudo amanhã e que todos os seus filhos ouvem um sermão sobre família e que seus netos e bisnetos são benção de Deus e que tudo vai se resolver. Após isso, todos abrem seus presentes, se beijam e abraçam - Tio Haroldo aperta a bunda da Fê, uma sobrinha que ainda não maculou - e voltam à festa.

Fitas, fotos, celulares, iPhads, câmeras... Tudo foi confiscado e cada testemunha do Natal mais incrível do bairro saiu com um dinheiro a mais para ficar com o "bico fechado". O Papai Noel ficou - já que não tinha para onde ir. Antes do final da festa, Seu Phrederico, o patriarca, diz a todos que irá dormir no estábulo.

E mais uma vez, a festa da família Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt foi marcada por muitos comentários no bairro.


V
Nunca se viu uma festa no bairro um festa como a dos Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt: sempre grandiosa e fechada para estranhos e barulhenta.

É como dizem os vizinhos que ficam de fora da festa: Os Oliveiras Santiago Albuquerque Bittencourt sabem dar uma festa.


Sanção Maia
22/12/11


Esse é o último texto Canto do Sanção deste ótimo 2011. Muitas produções e muito aprendizado. Obrigado a todos que leram os texto postados esse ano no blog - quem gostou e quem não gostou . Espero que ano que vem vocês continuem a acompanhar os devaneios deste pretensioso estudante de jornalismo que quer tirar um onda de escritor. Feliz Natal e bom Ano Novo pra todo mundo! :D

Um comentário:

Marla Patrícia disse...

Nossa Sanção essa foi ótima!! Muito engraçada adoreii!