quinta-feira, janeiro 27, 2011

Adeus, Madalena!

A muito não o via e esperava que já tivesse falecido. Quem não sentia falta do sorriso fácil e da alegria malandra de todos os dias? Enquanto fazia minha meditação – andar na praia no final da tarde – olhei para o mar, olhei o horizonte; barcos navegavam devagar e crianças brincavam com as ondas; casais apaixonados se abraçavam e se acariciavam naquela baixa luz do sol. Nada fora do comum, mas de repente parei e comecei a observar uma cena. Foi então que percebi alguém sentado um pouco distante de mim.

O costumeiro sorriso estava de volta. A sunga velha, o gereré ao lado do corpo, o chapéu de palha, o copo de cerveja na mão; sua barba e cabeça calva, os pêlos brancos por todo corpo. Seu olhar parecia de consentimento, certeza de algo. Eu olhava cada movimento e nada. Tentava me mover, mas não conseguia. Olhos vidrados e aquele homem inerte. Uma inesperada sensação de perda e saudade se instalaram em mim. Baixei a cabeça e me debulhei em lágrimas. Cada gota que caía na areia escrevia histórias quase esquecidas; momentos de diversão e ensinamento passavam pelas linhas formadas pela água dos meus olhos.

Levantei a cabeça e não mais o vi. Fiquei agoniado procurando aquela figura mítica, quase um deus que não estava mais na minha frente. Virei minha cabeça para direita e parei. Dentro do mar aquele mesmo homem que dominou siris, cantou com Riachão, viajou a Bahia de carona, conquistou quase tantas mulheres que perdeu a conta e que um dia chamei de “avô” olhava para mim e sorria com um ar de adeus. Trocamos olhares e ele se virou.

Sentei na areia da praia e enxuguei minhas lágrimas. Já não havia mais nada para se ver; ele se foi. Nenhum gereré na água, nenhama dança engraçada na minha frente. Um rapaz com isopor passou e o chamei – Me dá a mais gelada que você tiver – peguei a latinha, limpei a tampa, abri e tomei um gole; acendi um cigarro, voltei a minha meditação; a cada passo na areia, a cada gole da cerveja, cantei a canção que marcou a minha vida e de muitos que o amavam. “Madalena, Madalena você é meu bem querer. Eu vou falar pra todo mundo, vou falar pra todo mundo que eu só quero é você”.

Num barco celeste ele partiu e deixou seus gererés, suas histórias e seu maior amor: sua família.


Sanção Maia
26 e 27/01/11

Dedicado a nada mais, nada menos para "Waldemar dos Santos: com W, seu criado"