domingo, fevereiro 20, 2011

Observar, desejar e nada mais (1ª versão)

São 1h da manhã. Sentado no banco em frente a esse balcão sujo e com cheiro de mijo, passo a mão na minha cara e peço mais uma. Já perdi a conta de quantas cervejas baratas e doses whiskys paraguaios eu entornei. – Oh moral, tem arrocha aí? Bota nessa porra! – assim quase fico surdo com o grito dum filho da puta que está numa mesa perto de mim. Esse corno - junto com seus amigos - precisa dessa música de merda para sentir que tem pau. A cerveja pode ser barata, mas está gelada; pelo menos isso. Dou um gole, arroto, pego meu cigarro, ascendo e dou uma tragada. Difícil não me sentir em casa nessa bodega fedida. – Vou não, quero não, posso não... – nem posso dizer que meu ouvido não é penico; sempre escuto essas merdas aqui e não mudo de lugar, mas há um recompensa.

Quando olho pro lado de fora do pequeno boteco - o som impregnando meus ouvidos - observo a mesa das meninas: um quarteto que ri das cantadas bizarras ou dos broxas que as falaram; cada uma delas em seus trajes curtos e provocantes; cada uma na lasciva função de puta. São 1h40. O cigarro tá quase no fim e já me sinto tonto pelas biritas. As meninas estão agora na coreografia de alguma música que manda colocar ao mão no chão e jogar o rabo pro alto. Só quero olhá-las. Meu estado voyeur é comum nesses dias; não quero comê-las, só observá-las e depois, quem sabe, foder uma delas. Seus rabos mexem de um jeito gostoso; elas sabem disso e vão provocar cada otário que, assim como eu, fica de pau duro só de olhá-las.

Peço a saideira. Já estou num estado bom o suficiente pra andar até meu cafofo. Elas continuam lá na suas danças sensuais e esperam outro para dar em cima delas. Mulheres são assim: tem dias que querem sair pra dançar e dias que dão permissão pras trepadas. As putas dispensam mais um enquanto ainda as observo. Não vou ficar de olho nessas vacas que tem no seu par de pernas grossas e nas suas bundas grandes o poder de roubar minha carteira. Prefiro aquelas dos bordéis e esquinas, pois são mais honestas; pago R$80 e ainda ganho sexo anal. Essas quatro - com todo o respeito - são apenas filhas da puta que querem se exibir em algum realithy show e fuder com algum famoso. Elas esquecem que pessoas normais como eu e outros derrotados daqui são o máximo que elas vão impressionar e transar.

Faço o caminho pra casa. Já são 2h10 da manhã e como imaginei, não comi ninguém. Diga alô pra Latoya e pra Tiffany, dois travecos com quem bebo toda semana. Elas estão sempre com uma animação incomum e chula que me faz rir. Lembro que não comprei pão. Espero que ainda tenha sobrado algo do almoço. Ainda penso nas gostosas do bar; talvez devesse comê-las ou apenas podia ter deixado meu telefone. Essa madrugada será só minha, da cerveja, do cigarro e da minha querida guitarra Sandy; essa será um madrugada com minha amada solidão.

Chego em casa, vou até a cozinha e pego um cerveja. A Sandy como sempre deitada na minha cama; ligo o amplificador, ascendo um cigarro e começo a tocar um blues. Os lamentos da noite vão me alimentar e o sexo com a solidão vai ser tão gostoso que meus orgasmos virão em rios de lágrimas. Como as putas do bar, a vaca da solidão só me usa e joga fora: a única diferença é que ela sempre volta e me abraça todas as noites. Como diria o ditado: quem não tem cão, caça com gato; no meu caso, nesta noite, bate uma punheta.


Sanção Maia
13/02 (até volta a inspiração) a 20/02.

Pra saber mais sobre esse personagem leia o primeiro texto - Parte 1

domingo, fevereiro 13, 2011

O inesperado ilustre (1ª versão)

Ele
- Putz, meu cigarro tá acabando e essa cerveja tá quente. Tudo nesse bairro tá mais caro... Época boa era quando o retalho não passava de trinta centavos – Assim ele anda por um Centro Histórico depredado e a procura de um lugar para sentar e beber uma cerveja. Seus pés - na sua sandália Havaiana preta - aguentam as passadas fortes e tranquilas até o local de escolha. Antes de entrar, pausa para o cigarro. Ele pensa em ouvir boa música e em cerveja gelada. Sua semana está estressante e o mínimo que ele pode fazer é parar uma noite e relaxar.

Ela
- Ah, mais um dia na semana. Muito trabalho e... Peraí, eu tô trabalhando dentro de um bar? – Ela ri e volta a se debruçar sobre papéis ao lado de uma garrafa com água; lápis e criatividade em punho. Mesmo com todo aquele ruído ao redor ela se concentra em sua arte, em sua obsessão. Seus traços vão passando com leveza e humor num papel especialmente produzido para seu talento. Com suas meias pretas por baixo de um lindo vestido, ela quer apenas apreciar arte e continuar seu ofício.

Ele
A escada é apertada e ele sobe com dificuldade – Licença, gordinho passando – Assim pede para as pessoas a sua frente darem espaço para sua passagem. Ele para e olha o ambiente com suas misturas de cores, luzes baixas, adereços decorativos; um espaço elaborado para festas apertadas, sons sensuais e que hoje abre para realizar um sarau. Na sua busca por relaxamento, vai ao bar e pede uma garrafa do famoso “cravinho”. Ele anda até o salão principal, encontra uma grande amiga e espera ao som de músicas dos bons tempos do pop, o início do evento.

Ela
Alguém chega ao seu lado e começa a papear. A pessoa que a fez ir ali – um grande amigo – conversa sobre passado, presente, futuro; cada um fala de suas conquistas, seus atuais desejos, suas paixões; ele levante e vai procurar o resto dos artistas da noite. Ela dá um gole na água e continua a desenhar. Seu projeto atual precisa ser finalizado e isso independe do local onde tenha que finalizá-lo. Concentrada no seu ofício, ela escuta alguém perguntar “você por aqui?”.

Eles
- Oi! Caramba como você tá? - pergunta ela.
- Eu tô bem e você? Não esperava vê-la tão cedo – eles riram e ela o chama para sentar.
- Eu tô bem. Vim aqui dar um relaxada e você? - diz ele.
- Tem um amigo meu que vai se apresentar aqui. Robson. Você conhece – pergunta ela que percebe que ele olha para os papéis em cima da mesa.
- Não. Na verdade é a primeira vez que venho aqui. Esses são seus desenhos? - questiona ele e a partir daí começam um extensa conversa que vai em vários assuntos.

Quando se conheceram houve uma certa empatia: ela o achou fofo e ele a achou original. Conversas banais e uma direta atitude dela, deixaram um interesse comum entre os dois. Ela falava sobre tudo e ele – por vários motivos – ouvia e ria; ele fumava, ela reclamava; ela pegou seu telefone e ele ficou tímido. Ambos não esperavam se ver ou lembrar de seus rostos, mas naquela noite, tudo estava preparado para aquele encontro.

Ainda conversavam quando ele lembrou que estava acompanhado de uma amiga – Se quiser, passa lá depois pra gente continuar a conversar – diz ele ao se levantar e beija a mão dela. Ela ri e continua sentada. - Pessoal, vai começar o espetáculo! - Aplausos e gritos ecoam pelo ambiente. Ele continua com seu cravinho e ela com suas ilustrações; ambos continuam a se olhar e analisar. Começa o sarau. Poesias, rimas e um lugar vago na mesa dele fazem o trabalho completo. Eles voltam a conversar e se aproximam: os interesses mútuos ficam claros. Ela com seus sorrisos e ele com suas piadas; ela com sua atitude e ele com seu receio.

- Não beijo cinzeiro – diz ela com a mais pura siceridade.
- Você tá me limando por causa do cigarro? - pergunta ele com um tom irritado.
- Claro! - respondi ela com tranquilidade.
- Beleza, me limando por causa do cigarro – repete ele já irritado.

Assim escutam mais alguns poemas que exaltam o orgulho da cor e etnia. Ela fala que vai embora e ele pergunta onde ela mora – Tá de brincadeira? Você mora no mesmo bairro que eu? - riem e combinam a sua ida. Descem as escadas, agora vazias e continuam a conversar. Música, teatro, livros, hq's; vários assuntos, várias risadas, vários sinais do que ia acontecer.

Eles chegam a porta de prédio dela. Conversam mais um pouco e esse olham. Ele não tem coragem e não sabe o motivo; ela espera o momento para olhá-lo e beijá-lo. Luzes dos postes, lua e estrelas os iluminam no enlaçar de algo que previam e adiavam. Em gestos respeitosos e singelos, suas mãos viajam por peles novas e seus movimentos acompanham o ritmo dos seus desejos. Eles param, olham um para o outro, riem, conversam e se beijam. Uma conquista para ambos: ela por saber do seu poder de sedução e ele por saber que ainda pode chamar atenção de uma mulher bonita.

Ele a deixa na porta do prédio. Dizem “tchau”, beijam-se novamente e cada uma segue o seu caminho. Não sabem se vão se ver, se vão se ligar, mas gostaram da noite. Um talvez inesperado pode mudar muitas coisas na vida.


Sanção Maia
29/01 (até a inspiração reaparecer) 13/02
Dedicado a um momento onde “inesperado e mudança” vem juntos. Para você, Lila Cruz, obrigado.