quarta-feira, novembro 10, 2010

Incontrolável

Explica para mim,
Homem forjado em amarguras, agruras
Quando nessa vida leviana, dura
Houve a sensibilidade do sentir?


Por que eu?
Sempre na sordidez de escárnios,
Com sentimentos esbónios
Fui incumbido para tal tarefa?


Incompreensível ação,
Pegando de antimão
Alguém que ver no facilitar
O modo de demandar a vida


No ventre ermo, no oco sentir
O alento cândido e o desejo brando
Espalham em demasia
A alegria num corpo vão


Se assim é o desejo,
De tal ser que não vejo,
Acalentar esse prodígio do vazio
Abraço-me


Se assim o tenho
Não farei desdenho
E aspirarei sem medo
Esse gostoso sentir




Sanção Maia
10/11/10

quarta-feira, outubro 20, 2010

Completude

As mãos dadas anunciam o romantismo. Nas ruas que passam, chamam a atenção pela amabilidade e sentimentalismo exposto a céu aberto. Risadinhas tímidas no restaurante, flores e pipoca na ida ao cinema. Sentimento abraçado por toda aquela simplicidade inicial de qualquer relacionamento. A noite ainda está incompleta. Os beijos singelos e os afagos carinhosos antecipam o que está por vir.

O caminho - marcado por um céu estrelado e iluminado pela luz da lua - mostra a continuidade noturna do romance. Eles abrem a porta do quarto. Um cômodo simples com cama, banheiro, uma cômoda próxima à janela, dois criados mudos na extremidade superior da cama, um sofá ao lado da porta junto ao frigobar. Sentam-se no sofá e começam a conversar coisas bobas. Falam da comida da noite, do filme romântico, da lua, de casos antigos; riem de piadas bobas, sarcasmos, ironias. Ele abre o frigobar, pega um vinho, tira a rolha, coloca o líquido nas taças; ela agradece; brindam, bebem e se olham. Num estalo, ambos esquecem de tudo e vão chegando mais perto um do outro sem se dar conta daquilo. Não há mais palavras; só há goles de vinho, aproximação, olhares e beijos inocentes. Seus corpos se encontram ainda mais perto um do outro. Suas mãos - agora livres das taças – começam a buscar cada centímetro de seus rostos, apertam nucas, acariciam cabelos... Ela se arrepia com mordiscadas em seu pescoço. Os lábios do rapaz começam a subir para as bochechas. A moça afasta seu amante e...

Ele a puxa. Um beijo forte, intenso e demorado. Seus lábios se tocam com a ferocidade de um leão na hora do bote. Seus corpos se entrelaçam; um nó lascivo e estimulante. Eles se levantam e começam a tirar suas roupas que voam por todo o quarto. Nus e ainda em pé, eles se amassam. As línguas nervosas se tocam e percorrem as extensões possíveis. Ele a joga na cama e ela o espera. Ele se aproxima, a beija e suas mãos tocam tudo o que podem: barriga, coxas, braços, bunda. Um descontrole desejoso os domina. Aqueles seios fartos da bela dama mal cabem nas mãos; aquelas unhas, grandes e afiadas, rasgam as costas do amante.

Mais beijos, mais apertos, mais tesão. As mãos vão de encontro aos respectivos sexos. Masturbações ligeiras e fortes; clítoris e mastro estimulados. Contorções e sussurros eclodem na veemência dos gestos. Eles param. Em cima dele, ela se posta de quatro em direção ao falo rigo (e grande) e ele se ajeita embaixo dela. 69. Ali na lendária posição, as partes se encontram no deleite oral. As bocas fazem movimentos compassados: ligeiro, rápido, ligeiro, rápido. Líquidos viscosos começam da sair de ambas as genitálias. Agora, ela se deita e se abre. A flor, já irrigada e aberta, sente as batidas do pênis avantajado que se prepara para penetração. Aos poucos ultrapassa os grandes lábios; vai entrando vagaroso e preenchendo cada espaço. - Ah, assim... - sussurra a amante que morde o ombro do felizardo. Então começa: o vai e vem, o aumento de velocidade, o uso da força em cada estocada. Ela mal se aguenta e tem seu primeiro gozo. Sua vagina, já completamente molhada, fica de fácil acesso para o pênis que a penetra. Ela o quer, ela o aperta, ela o encharca. Minutos passam e chega a hora de mudar de posição. Eles se levantam. Ela coloca os joelhos no chão já virada de costas.

Sem muito esperar ele a agarra pela cintura, enfia o falo e começa. As batidas dos corpos se tornam mais altas. Ele a traz e a leva de forma rápida e forte; ela se empurra e geme alto. - Vai,vai,vai - diz a moça. Ele mantendo o controle, dá pequenas respiradas e se atem a penetrá-la. Ela por sua vez,  esmera a sensação de  ter atrás dela o seu amado penetrando-a. Tapinhas, beliscões, mordidas nas costas, puxões de cabelo; gritos, gemidos, pedidos de continua. Depois de perder a conta de quantos orgasmo teve, agora ela quer comandar, ficar por cima. Solícito, o rapaz prontamente se deita e vê aquela mulher majestosa dominar o seu mastro. Ao olhá-la, ele se viu como uma oferenda a Eros. - Fazei de mim o que queres. Deixai esta mulher, minha amada, me usar ao seu bel prazer - assim, orou. E então começa:  sobe, desce, rebola. Encantado com cada movimento, ele geme. Geme alto e forte. - Continua vai, continua - pede ele já em total loucura, agarrando os seios da moça com força e esta sem conseguir conter o sorriso de satisfação.

Ao agarrar sua amante, o jovem volta ao “papai e mãe” e utiliza métodos para fazê-la encontrar o nirvana novamente. Força, apertos, chupões; tudo vale. Ao fazer isso, sua parceira entra em um quase transe. - Goza em mim, goza... – pede ela solícita, gemendo extasiada. Ele então, aumenta o ainda mais a velocidade da penetração e retira o mastro colocando-o direto na boca da amante. - Ah! Ah! - urra ele. Ela por sua vez, suga cada gota de sêmen que pode e se sacia ao ver seu parceiro com as pernas bambas como as dela de tanto tesão.

Ambos se levantam e vão fumar um cigarro. A cada trago e olhadas cansadas, risos simples e em total completude de vontades. Após um papo rápido eles se deitam, se abraçam e dormem; após uma noite de puro sentimento, o merecido descanso no “sono dos amantes”.

Sanção Maia
19, 20 e 21/10/2010

domingo, outubro 03, 2010

Um dia qualquer

São 6h da manhã. O despertador começa, com sua música cruel e insuportável, o processo de acordar. Meus olhos, cheios de remela e sono, abrem-se com o feixe de luz de sol que passa pela janela. Levanto tonto. O sono e as cervejas tomadas no dia anterior ainda fazem efeito no meu equilíbrio corporal. Não ando em linha reta, calço a sandália errada, ainda estou cheirando a cigarro e a cerveja e não consigo achar minha toalha. Nada como uma ressaca, após mais uma noite com uma mulher qualquer, num local bizarro, com uma camisinha de posto de saúde e marcas de arranhões e chupões por todo o corpo – Caralho, meu pau tá roxo? – E assim, percebo que a puta era uma louca e deixou meu cacete cheio de marcas.

Todos devem estar se perguntando o porquê de um palavreado tão chulo e um sentimento de raiva e tristeza constante. Quando se acorda pela quinta vez na semana bêbado, marcado por uma vadia e fedendo a bebida, você acaba se tornando amargo, sozinho. É assim que vivo todos os dias. Trabalho, bebo, fodo, fumo e no final de tudo, só me resta solidão. Sempre foi assim. Nunca quis uma vida normal. Será que é difícil d’eu entender que estudar para passar num concurso público ou fazer a faculdade da moda é melhor do que estar em um emprego patético ou num beco fedido trepando? Será que é isso que minha mãe quis? Será que é isso que eu quero?

O comum me cansa. Agora, lavando alguma xícara que possa ser usada para colocar meu café requentado, eu vejo que isso é babaquice. Comendo esse pão duro, que pode quebrar meu dente careado, vejo que por um momento, a vida poderia ser simples como andar com as pernas. Sem sexo desregrado, sem bebida exagerada. Seria só chegar em casa, beijar minha esposa, alisar meu cachorro, assistir ao jornal das 20h. Olho o relógio e já são 6h30. Na minha cama, ao lado da minha querida guitarra Sandy, está ali aquela que possuí noite passada. Sempre acabo trazendo-as ao meu apartamento e fodendo as putas até esfolá-las. No final, se apaixonam; como por mais umas semanas ou meses e sumo. Assim sou eu: uma solidão tarada, uma solidão embriagada, uma solidão cansativa.

Esse cigarro que acendi é providencial. A louca tá acordando e me chamando pra deitar com ela. Vaca, deixou meu pau com marcas roxas. Ela balbucia alguma merda; tô pouco me lixando. Prefiro meu amigo cigarro, baforador, inimigo do pulmão, meu companheiro-algoz; prefiro uma boa cerva ou um bom uísque; prefiro uma mulher fácil a uma mulher que me ame. A solidão é meu prato de almoço, meu lanche, meu jantar... 7h. Minha casa está um caos. A idiota acorda e vai vomitar. Bem, ela teve uma noite comigo e não esperava beber tanto. Precisava de uma vida com anjos e não cheia de demônios. Acho que devia ligar para mamãe, mas ela só vai falar que eu tenho que sair dessa vida e procurar algo melhor. Mães, sempre com razão; filhos, sempre manés por não escutá-las.

Já são 8h30, a louca foi embora, tomei um banho e vou sair. Hoje é meu dia de folga. O que fazer? Ligar pra uma puta? Ligar para um pinguço? Comprar mais cigarros? Nunca vou me acostumar com vida normal. Talvez tenha que admitir, não gosto do simples ou do comum. Não posso viver como alguém que acha que compras na Daslu valem alguma merda. Sou assim e assim não morrerei, mas comum nunca, jamais serei.

A porta bate nas minhas costas. Andando, me pergunto: Comum...? Isso vai ser uma longa história.

Sanção Maia
03/10/2010

- Texto inspirado em personagens como Hank Moody, Quincas Berro D'Água, Buckovsky e muitos outros ídolos de esbórnia.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Num segundo outro mundo

A lugar está lotado. Na boate, música e cerveja se completam; na pista, homens e mulheres se esbaldam de dançar, estão aptos a paquerar. Em alguns cantos do local, há casais se agarrando na volúpia dos seus vícios, no desejo intrínseco de uma noite de prazer. Em todo esse ambiente, propício a loucuras, ela se esbalda de dançar sem pensar em namoros ou casos. Suas amigas, que a acompanham, estão se preparando para botes certeiros nos “gatinhos” da noite. A cada batida daquela música forte e sexy, ela se esquece do mundo e só pensa em si mesma. Nada ali a importa mais; só a música e a dança.

Cada passo seu oscila entre rápido e lento com coordenação perfeita; o ritmo, o balanço dos braços e pernas e quadril se encontram firmes. Não há indivíduo que não olhe fascinado para aquele ser em movimentos graciosos e agressivos. A festa está chegando ao seu fim. Nos cantos lascivos, já não existe mais ninguém. A pista também ficou vazia. Só sobrou ela com seu copo de vinho, sentada em um mesa, rodeada por suas amigas contando os troféus de cada uma. Ela viaja em seus pensamentos, saindo daquele papo chato e sem graça. Ela bebe, ouve alguém falar “me pegou de jeito” e ri sem saber o que mais fazer. Foi quando, num golpe de mestre do destino, aparece alguém diferente e interessante que, para e a observa, sem se importar quem está ao redor dela. Num olhar, envolto em sentimentos incompreensíveis, eles se encontram. Cada um com um sorriso, um gesto, uma música diferente. A batida dos seus corpos os levam a lugares inimagináveis. “Vou ao banheiro”, diz ela saindo dali e de repente sente um braço puxá-la.

Na mesma hora, uma boca invade a sua e ela não se importa com isso. Num beijo, tão louco quanto toda a situação, eles sentem-se conhecidos de anos a fio. As mãos, que viajam por extremidades dos corpos agora conhecidos, se colidem com roupas que poderiam não estar ali, mas por alguma razão continuam no mesmo lugar. Ele a carrega, a coloca em cima da pia e eles se abraçam numa volúpia intensa. Ela o coloca em meio a suas pernas e o aperta. As mãos dele, passam e seguram seu rosto não só com lascívia, mas carinho. Ela contribui fazendo um cafuné em sua nuca. O beijo não para. Os olhos de ambos fecham e abrem, sem acreditar no que ocorre. Tudo acontece num mundo onde a rotina é esquecida com o toque de pele, um brilho no olhar. Aí está a beleza do momento. A cada movimento, uma visão diferente de como é a vida, de qual é o real valor do tesão.

Alguém chama-a. Ela se assusta e ri. Ele a olha, pede para esperar, mas ela não pode. Um beijo forte e ela sai se ajeitando, falando que estava passando mal, mas que está melhor. No canto da porta, ele a olha, com desejo e saudade. Ela o olha de volta e dá um sorriso alegre e infantil. Não trocaram telefones, nem e-mails. Eles sabiam que iam continuar o que ali começou. É só esperar o momento certo que eles irão fugir, mais uma vez, ao mundo onde a maior viagem é o prazer de estarem juntos.

Sanção Maia
02/08/10

domingo, abril 25, 2010

O momento

Num restaurante discreto e aconchegante, som ambiente e conversas banais não chegam até aquela mesa bem no canto do local. Nos subconscientes em total sintonia, o desejo se instala em sua forma mais cândida: seus corpos nervosos, vestidos a caráter, dão pequenos tremeliques travessos. Olhos nos olhos, rostos mais perto. O perfume dela, a colônia dele. O sorriso dela, a barba rala dele. Os lábios dela, os lábios dele...

O pedido chega (duas taças de vinho, junto com um prato de frios). Risos acanhados brotam nas faces que a pouco quase se colidem. Mãos vagarosas e objetivas pegam as taças, suspendem as mesmas e brindam por algo que nem eles mesmos sabem descrever. Mais risos, mais vinhos, mais olhares fugazes. O papo continua com assuntos triviais: emprego, faculdade, sociedade, histórias do passado. Os ponteiros do relógio se movem devagar. O tempo é sempre um bom companheiro. Olhares mais ousados começam a surgir. O desejo inicia uma mudança e o vinho vai fazendo sua parte. A música invade a conversa, invade os gestos. Aquele som romântico, sexy, aquele soul...

Eles se levantam e começam a dançar. Uma dança lenta e ritmada. Um passo pequeno para o lado, um passo pequeno para o outro. Um giro suave e ele a aperta em seu tórax. Sua barba rala raspa de leve o rosto dela até chegar ao pescoço. Ela, tímida, dá um sorriso e o deixa ali, sentindo o seu perfume. Um beijo de leve na bochecha dela. E então mais outro, outro, outro... As bocas se aproximam... Os cantos dos lábios se encontram... Os olhos se fecham... Os ponteiros começam a parar...

Tudo para. Tudo muda. Tudo é único. Aquele beijo sem mãos, sem apertos, sem pressa não tem tempo pra acabar. Uma técnica de hipnose tão grande que um transe universal circula aquele casal no encontro paradisíaco. Um mundo cheio de delicadeza e candura passa por cada movimento dos lábios, das línguas... Eles se soltam, se olham, suspiram e riem. Voltam aos seus lugares, voltam a conversar, voltam às piadas graciosas, voltam ao tempo.

Eles pagam a conta, saem do bar e vão para suas casas. Suas vidas continuarão, mas o tempo estará com eles disposto a parar, disposto a se confluir com o universo.

Sanção Maia
25/04/10